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ACNE
A acne é uma situação muito frequente, que atinge cerca de 80% dos jovens, sendo motivo de grande número de consultas de dermatologia, embora muitos adolescentes continuem a ser orientados por conselhos nem sempre adequados de pessoal não especializado ou influenciados por mitos, tradições ou outros factores não científicos, como por exemplo, a utilidade de certas dietas ou restrições alimentares, que se tem demonstrado nos últimos anos não influenciarem a evolução desta entidade.
A acne é uma doença inflamatória crónica dos folículos pilossebáceos da face, pescoço e região anterior e posterior do tronco. Caracteriza-se pelo aparecimento de comedões abertos (pontos negros) ou comedões fechados (pontos brancos internos), pápulas (borbulhas vermelhas), pústulas (borbulhas com pus) e, nas suas formas mais graves, abcessos, quistos e cicatrizes. É uma doença causada por diversos factores entre eles factores genéticos (determinantes da precocidade e intensidade da acne), raciais e ambientais (climas quentes e húmidos favorecem o seu aparecimento). As lesões surgem em regra na adolescência, atingem ambos os sexos, tendo uma maior prevalência dos catorze aos dezassete anos no sexo feminino, e dos dezasseis aos dezanove no sexo masculino. Nalguns casos, nomeadamente se houver disregulação hormonal, a acne pode persistir além destas idades.
As lesões de acne surgem na sequência da obstrução dos folículos pilossebáceos, consequência do aumento da produção e secreção sebácea (dependente das hormonas sexuais masculinas) e da hiperqueratinização com obstrução do folículo pilossebáceo; consequentemente, há infecção bacteriana (sendo o microorganismo implicado o Propionibacterium acnes) e gera-se uma resposta inflamatória e imunológica à presença do microrganismo e de alguns produtos modificados do sebo.
Existem vários medicamentos tópicos (cremes ou fórmulas de aplicação na pele) e sistémicos (comprimidos) e outros tratamentos adequados para o tratamento da acne, mas existem indicações precisas de cada tratamento para cada tipo de acne. Assim, o tratamento da acne deve ser adequado a cada caso específico, tendo em conta o tipo de manifestações clínicas e a sua intensidade, bem como o impacto da acne na qualidade de vida do jovem e a existência ou não de contraindicações ou limitações ao uso de determinados fármacos. O Dermatologista é o profissional indicado para analisar cada caso e prescrever o tratamento mais adequado e eficaz.
A acne pode ter um impacto negativo na qualidade de vida do jovem e merece, em particular nestes casos, uma intervenção mais activa. Apesar de não se tratar de uma doença grave, a acne pode ser desfigurante, pelo que se impõe um acompanhamento precoce e adequado, com a finalidade de evitar a sua progressão para estádios mais avançados, e, assim evitar, eventuais cicatrizes inestéticas definitivas.
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ALERGIAS DE CONTACTO (Dermatites ou Eczemas de Contacto)
As Dermatites de Contacto ou eczemas de contacto são frequentes e representam a principal forma de alergia da pele ao contacto com substâncias do exterior. Surgem no local de contacto com o alergénio, por vezes desenham mesmo a área de contacto, e manifestam-se por comichão, vermelhidão e borbulhas, algumas com conteúdo líquido formando pequenas bolhas de água, ou pequenas feridas e crostas na pele. É importante referir que estas reacções não são imediatas; surgem, no mínimo, 1 ou 2 dias após o contacto e não ocorrem pela primeira vez que se contacta com a substância; são habitualmente necessárias várias exposições até o indivíduo se tornar alérgico.
Estas dermatites de contacto alérgicas apresentam-se sob diversos aspectos dependendo do alergénio e do local e forma como este contacta com a pele. Os principais alergénios são os metais, medicamentos tópicos, perfumes e outros cosméticos e os produtos profissionais. Mas os alergénios são muitos e variados, sendo frequentemente detectadas novas substâncias capazes de causar alergia de contacto. Uma das situações mais frequentes e que afecta mais de 20% dos jovens em Portugal é a alergia ao metal níquel: ocorre, por exemplo, na orelha pelo contacto com brincos de fantasia (não de ouro), junto ao umbigo pelo contacto com o botão das calças de ganga ou fivela do cinto, ou no punho pele fivela da correia do relógio.
Mas são muitos outros os exemplos que podemos referir: as esteticistas que manipulam os acrilatos das unhas de gel e, ocasionalmente as clientes, podem sofrer de dermatite das mãos e em redor das unhas; as cabeleireiras e os indivíduos que pintam o cabelo, fazem alergia às tintas do cabelo que na cabeleireira se manifesta nas mãos mas no indivíduo que pinta o cabelo pode dar apenas comichão ou situações mais graves com inchaço da fronte e pavilhões auriculares ou toda a face ou bolhas no couro cabeludo e que deitam uma “aguadilha”, situações que podem motivar a vinda a um serviço de urgência; as crianças e jovens que pintam tatuagem temporárias na pele, neste caso mesmo num só contacto, podem desenvolver alergias e contacto graves e que deixam marcar para toda a vida – nesta tatuagem, dita de Henna, usam as tintas do cabelo em doses altas para pintar a pele e estas crianças podem tornar-se alérgicas não só à tinta do cabelo mas também a produtos com estrutura química semelhante tais como corantes do vestuário, anestésicos locais e outros medicamentos como as sulfamidas. Há ainda dermatites de contacto causadas por perfumes, cremes cosméticos, plantas, materiais de vestuário e calçado, medicamentos aplicados na pele, entre muitas outras…
A dermatite de contacto é também a doença profissional mais frequente, ainda não a mais grave, mas obriga a grandes perdas de dias de trabalho, a mudanças de profissão com consequente reinvestimento na formação profissional … tudo isto quando muito se pode prevenir.
Os testes para estas alergias de pele são os Testes Epicutâneos ou Provas de Contacto e não os testes das “picadas” habitualmente feitos pelos alergologistas e pneumologistas (que tratam a asma ou a rinite alérgica). Para estes testes aplicam-se nas costas do paciente, uma espécie de selos (adesivos com os alergénios) e observa-se a pele ao fim de 2 dias para ver a quais alergénios a pele reage. O tratamento passa pela evicção do ou dos alergénios detectados e, quando necessário, na utilização de cortisona em cremes/pomadas ou em comprimidos.
Nem todas as dermatites de contacto representam uma verdadeira alergia. Algumas podem resultar da “irritação” da pele pelo contacto repetido com detergentes, champôs e outras substâncias que agridem e alteram a estrutura protectora do estrato córneo da epiderme. Estas dermatites irritativas ou traumáticas envolvem habitualmente as mãos que ficam secas, ásperas, por vezes com fissuras na pele que causam mais ardor do que comichão. Ocorrem no pessoal da saúde, cabeleireiras, pessoal de limpeza, da restauração, sendo por vezes facilitada quando à tarefa profissional se associa uma actividade doméstica extra (nascimento de um filho com contacto mais repetido com detergentes e líquidos de higiene). Estas dermatites irritativas previnem-se e tratam-se evitando o contacto directo com estes agentes e aplicando vários cremes protectores.
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ALERGIA OU INTOLERÂNCIA AO SOL (Fotossensibilidade)
A luz solar contém radiação ultravioleta (UV) que é absorvida pela pele produzindo alterações da epiderme e da derme. A queimadura solar e o bronzeado são exemplos do dano causado a curto prazo. A exposição solar cumulativa é responsável pelo envelhecimento da pele e pelo aparecimento de cancro cutâneo. A radiação UV também está presente na luz emitida por algumas fontes luminosas artificiais (solários), produzindo o mesmo tipo de alterações cutâneas.
Os efeitos da luz solar acima descritos acontecem na generalidade dos indivíduos. No entanto, alguns podem ainda desenvolver alergia ao sol, reacções conhecidas como fotodermatoses, de origem diversa: de causa desconhecida ou idiopática (relacionadas com prováveis alterações do sistema de defesa imune), doenças hereditárias (por exemplo acumulação na pele de substâncias “tóxicas” após exposição ao sol como nas profirias), fotossensibilidade a substâncias químicas exógenas aplicadas na pele ou a medicamentos ingeridos. Existem, ainda, doenças cutâneas que agrava com a exposição solar, como o Lúpus Eritematoso.
Entre as fotodermatoses idiopáticas, a mais frequente é a lucite estival benigna, que ocorre principalmente na mulher jovem: ao 2º ou 3ª dia de exposição solar na praia surge, nas zonas habitualmente protegidas do Sol (decote, dorso, coxas…), uma comichão intensa e a pele fica vermelha e com pequenas borbulhas que parecem tornar a pele irregular. A erupção polimorfa à luz é também uma erupção cutânea (pele vermelha com borbulhas) pruriginosa nas zonas expostas ao sol em jovens adultos, que surge recorrentemente na Primavera e melhora ao longo do Verão, desaparecendo quase por completo no Inverno. A dermatite actínica crónica atinge preferencialmente as áreas expostas de homens com mais de 50 anos com actividade ao ar livre. Na urticária solar as lesões cutâneas (“babas” ou “favocas”) são transitórias (duram minutos a horas) mas muito pruriginosas e surgem em minutos após pequena exposição solar o que pode ser altamente limitativa da vida do indivíduo.
As fotodermatoses de etiologia genética são raras, sendo a mais frequente o xeroderma pigmentoso (um caso por milhão de recém-nascidos), em que há um defeito da capacidade de reparação do material genético danificado pelo Sol, pelo que têm uma incidência aumentada de cancros de pele e tem habitualmente uma esperança de vida diminuída. As porfirias são também distúrbios do metabolismo em que há acumulação de substâncias endógenas capazes de desencadear intolerância ao sol.
A fotossensibilidade a substâncias químicas exógenas ocorre no local da pele em que coexiste a substância e há exposição solar. Estas substâncias são produtos de aplicação tópica na pele como perfumes, anti-inflamatórios não esteróides, antimicrobianos, protectores solares, e medicamentos de uso sistémico como anti-inflamatórios não esteróides, antibióticos, ou diuréticos. Algumas plantas possuem psoralenos, substâncias activadas pela energia solar, que se contactam com a pele exposta ao sol ocasionam “queimaduras solares” localizadas: surgem manchas vermelhas até com bolhas de água, muitas vezes desenhando linhas paralelas correspondendo ao contacto com as plantas e quando cicatrizam deixam a pele com “riscos” castanhos durante muito tempo. São as fitofotodermatoses (fotosensibilidade a plantas) causadas pela folha da figueira, pela Ruta ou Ruda e ainda pela casca de citrinos, particularmente da lima.
Certas doenças de pele podem ser agravadas pela exposição ao sol, como a rosácea, o Lúpus eritematoso, a dermatomiosite, o herpes simplex, entre muitos outros.
O diagnóstico das fotodermatoses é feito com base no exame clínico e por vezes recorrendo a meios auxiliares de diagnóstico. O atingimento preferencial das áreas expostas à luz solar como a face, a região do decote, o dorso das mãos e os antebraços apoia o diagnóstico de fotodermatose. É necessário excluir a introdução recente de produtos de administração tópica ou oral (de prescrição médica ou não). A biópsia cutânea e os testes fotoepicutâneos (testes semelhantes aos utilizados no estudo das dermatites de contacto mas em que as substâncias a testar são expostas aos raios UV) estão entre os vários exames auxiliares disponíveis.
A protecção solar é obrigatória e em casos mais graves de intolerância ao sol, pode mesmo ser recomendado o evitamento total da exposição.
A especificidade inerente ao tratamento de cada uma das fotodermatoses descritas implica orientação pelo Dermatologista.
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ALERGIAS A MEDICAMENTOS E OUTRAS REACÇÕES ADVERSAS A MEDICAMENTOS
As reacções cutâneas adversas a medicamentos (toxidermias ou vulgarmente designadas alergias medicamentosas) ocorrem em dois a três por cento dos doentes e têm uma expressão clínica muito variável, raramente trazendo a “assinatura” do medicamento. É preciso estar muito alerta e o Dermatologista necessita de ter um alto nível de suspeição para pensar nesta situação, pois a alergia medicamentosa pode simular muitas outras doenças de pele. E torna-se muito importante reconhecer esta situação e, sempre que possível, suspender de imediato o medicamento responsável, pois daí depende muitas vezes o resultado final desta alergia.
A alergia medicamentosa pode surgir ao fim de poucos minutos após a toma do medicamento, dias ou semanas depois ou, nalguns casos, até muito mais tarde, o que dificulta a relação da doença na pele com o medicamento que se está a tomar ou se tomou há dias ou semanas. As reacções imediatas de alergia medicamentosa são a urticária e angioedema, mas são mais frequentes as reacções de início mais tardio como o exantema, com envolvimento só da pele ou por vezes também do fígado e outros órgãos internos, às vezes associado a feridas na boca e olhos, o eritema fixo e a fotossensibilidade.
Os medicamentos com maior risco de causar toxidermias são os antibióticos (penicilinas e sulfamidas), os anti-inflamatórios, os medicamentos para as convulsões também usados no tratamento da depressão grave, e o alopurinol usado para baixar o ácido úrico. Mas qualquer medicamento pode ser causa de alergia medicamentosa, mesmo uma simples “Aspirina®”.
As formas mais frequentes são:
Os Exantemas medicamentosos ou maculopapulares surgem pelos 7-14 dias de tratamento, ou no dia seguinte se indivíduo já antes era alérgico e voltou a tomar o mesmo fármaco. Evoluem como um exantema viral, por vezes com febre e prurido (comichão) e são constituídos por manchas vermelhas nalgumas áreas com relevo distribuídas simétricamente no tronco e membros e progredindo da cabeça para as extremidades. A evolução é geralmente favorável em 1-2 semanas, mas nalguns casos a pele pode não ser o único órgão atingido. Podemos estar perante a chamada Síndrome de Hipersensibilidade a Fármacos que tem envolvimento multiorgânico, com febre alta, “gânglios” aumentados, hepatite tóxica, por vezes fulminante, anemia e baixa dos glóbulos brancos, ou insuficiência renal. Mais raramente a alergia medicamentosa simula uma virose simples mas ao fim de horas ou poucos dias associa febre alta, conjuntivite ou feridas no nariz, boca, lábios e na área dos genitais, a pele vermelha torna-se dolorosa e surgem bolhas de líquido que podem ocupar grande área do corpo, como uma queimadura muito extensa, o que traduz um quadro muito grave de alergia medicamentosa que pode ser fatal, a Síndrome de Stevens-Johnson ou síndrome de Lyell/Necrose epidérmica tóxica.
A Urticária e o Angioedema surgem minutos a horas após a toma do fármaco. Na urticária, as pápulas vermelhas, grandes, assimétricas e de contornos em carta geográfica, dão prurido e são migratórias (regridem em menos de 24 horas). No angioedema, as lesões são mais profundas originando edema (inchaços) da face, extremidades e genitais, duram mais tempo e causam dor. Raramente, podem acompanhar-se de edema da glote (falta de ar) e colapso cardiovascular.
O Eritema Pigmentado Fixo é uma toxidermia muito típica e de fácil diagnóstico que se caracteriza por uma, ou várias, manchas vermelhas arredondadas que regridem em poucos dias, deixando pigmentação castanha acinzentada, mas que se reactiva no mesmo local, se se tomar de novo o fármaco. Ocorre habitualmente com medicamentos tomados esporadicamente como os anti-inflamatórios.
A Fotossensibilidade, constituída por lesões das áreas expostas ao sol, ocorre com vários medicamentos como a amiodarona, os AINE, alguns antibióticos (tetraciclinas e quinolonas) e por aplicação tópica de anti-histamínico (prometazina ou Fenergan®creme) ou anti-inflamatórios.
Diagnóstico e tratamento:
O diagnóstico de alergia medicamentosa é muitas vezes um diagnóstico de probabilidade e a identificação do fármaco causal necessita de grande cuidado e baseia-se essencialmente em critérios clínicos. Só para um número reduzido de toxidermias e de medicamentos, existem testes específicos que podem confirmar o diagnóstico. É importante não estabelecer erradamente o diagnóstico de alergia medicamentosa pois limita futuras intervenções terapêuticas e cria uma ansiedade muitas vezes desnecessária. Porém um diagnóstico correcto de alergia medicamentosa com o tipo de alergia e o(s) fármaco(s) que o indivíduo deve evitar ou proibir pode evitar alergias futuras, muitas vezes bastante mais graves.
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CALVICIE E OUTRAS ALOPECIAS
Na avaliação da queda de cabelo é importante o conhecimento do ciclo de vida do mesmo. Cada folículo piloso tem uma fase de crescimento de 2 a 5 anos sendo seguida por uma fase de repouso, que dura 3 meses e termina no desprendimento do cabelo. Normalmente 15% dos folículos estão na fase de repouso, sendo estes os cabelos que causam a queda regular e diária de cerca de 60 a 100 cabelos, a qual atinge o seu máximo no final da primavera e do verão. Os diversos desequilíbrios deste ciclo levam à ‘’queda de cabelo anormal’’ levando à diminuição parcial ou total dos cabelos a qual é designada alopécia, em linguagem médica.
A queda de cabelo é habitualmente um motivo de preocupação, devendo a necessidade de tratamento ser sempre baseado na causa associada. Assim é importante conhecer os diferentes tipos de alopécia dado que algumas são temporárias e outras justificam uma avaliação médica. Na Alopecia Androgenética (AA), a conhecida “calvície”, a queda é lenta e raramente difusa. Sob acção dos androgénios (hormonas masculinas presentes nos dois sexos embora em maior percentagem no homem), verifica-se em indivíduos com tendência genética, um aumento do número de folículos em fase de queda e um afilamento dos cabelos nos ciclos de crescimento seguintes. Aos 50 anos afecta 50% dos homens e 20-50% das mulheres, piorando com a idade. No homem é conhecida como calvície e localiza-se na região das temporas (as “entradas”) ou no cimo da cabeça, podendo existir cabelo apenas nas áreas laterais e posteriores do couro cabeludo, onde o cabelo nunca se perde. Na mulher afecta as zonas centrais do couro cabeludo.
A história e exame clínico são habitualmente suficientes para o diagnóstico. Na mulher se a redução capilar é importante ou se estão presentes outros sinais de disfunção hormonal (acne, excesso de pêlos, pele oleosa e irregularidades na ciclo menstrual) pode ser justificado um estudo hormonal com ecografia abdominal. Existem tratamentos locais e orais eficazes no atraso da evolução da doença. Nos casos severos, e sob conselho do Dermatologista, o autotransplante de cabelo, realizado em centros especializados, é uma opção. A outra causa mais comum de queda difusa é o Eflúvio Telogénico (ET). É provocado pela passagem dos folículos, antes do tempo, da fase crescimento para a de repouso levando a uma perda diária de cabelos de 25 a 30%, em vez dos normais 15%. Uma técnica simples é traccionar com os dedos, uma madeixa de cerca de 50 cabelos, que normalmente desprende 1 ou 2 cabelos, e neste caso desprende 10 ou 15. As causas mais comuns são os emagrecimentos rápidos, stress, medicamentos, alterações hormonais (pós-parto, inicio ou interrupção da pílula, patologia da tiróide), tumores, infecções, anemias, deficiências nutricionais, doenças inflamatórias diversas, etc. A queda surge 6 a 16 semanas após o factor desencadeante, podendo também alterar o crescimento das unhas. A necessidade de exames vai depender da sua evolução e eventuais causas. Mesmo que a razão seja resolvida pode demorar um ano até à auto-resolução. Embora não sejam obrigatórios, recomendam-se os suplementos vitamínicos.
Pode também existir uma interrupção súbita da fase de crescimento folicular provocada por alguns medicamentos, intoxicações e quimioterapia, a que se chama “Eflúvio Anagénico”.
A “Alopécia Areata” também conhecida por “Pelada” afecta habitualmente jovens dos dois sexos. As peladas são áreas de pele normal mas sem pelos e à periferia com cabelos finos e “cortados” ou que se destacam facilmente quando a pelada está em crescimento. Não dói nem dá comichão mas a alopécia areata ou pelada pode ser motivo de grande preocupação, pois pode evoluir de 1 ou duas pequenas zonas de alopécia cobertas pelo restante cabelo, para extensas áreas de perda de cabelo podendo afectar todo o couro cabeludo (alopecia total) e por vezes todo o corpo (alopecia universal). Nas peladas as células de defesa do indivíduo agridem os folículos pilosos impedindo o seu crescimento, mas observa-se geralmente resposta completa com tratamento local. Nas formas mais extensas, os tratamentos nem sempre são eficazes e duradouros sendo essencial avaliar a melhor opção caso a caso.
De forma mais rara na criança, a tinha do couro cabeludo (infecção por um fungo) pode provocar áreas de perda de cabelo, mas a pele não está normal: tem descamação e restos de cabelos no seu interior ou mesmo pontos negros que correspondem a restos de cabelos infectados que estão inclusos no folículo. Estas tinhas são contagiosas curam com tratamento oral. Noutras situações de alopécia há destruição definitiva dos folículos pilosos, são as Alopécias Cicatriciais. Podem surgir após infecção, tracção, trauma ou tumor do couro cabeludo ou em dermatoses inflamatórias como o Lúpus eritematoso ou a esclerodermia. Nestas doenças inflamatórias do próprio folículo deve realizar-se uma biopsia de pele e análises sanguíneas, que poderão ajudar ao diagnóstico. Nestes casos utilizam-se tratamentos locais e orais que podem travar ou reduzir o avanço da doença se utilizados no seu início.
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CANCROS DE PELE E DERMATOSES PRÉ-CANCEROSAS
O cancro da pele é o tipo de cancro mais frequente nos indivíduos de raça branca (caucasiana). A sua incidência tem vindo a aumentar progressivamente desde meados dos anos 60, sendo a excessiva exposição ao Sol responsável por mais de 90% dos casos. O aumento da longevidade e a utilização de medicamentos fotosensibilizantes ou de outros que diminuem as defesas contribuem também para o aumento dos cancros de pele. Num estudo que abrangia os últimos 5 anos (2004/2008) foi diagnosticado um novo caso de cancro de pele em cada 30 Consultas num Serviço de Dermatologia de um Hospital Central do nosso país.
O cancro da pele tem elevadas taxas de cura quando diagnosticado e tratado nas fases iniciais, pelo que a auto-vigilância e o diagnóstico precoce são essenciais. Existem três tipos mais frequentes de cancro da pele, o Melanoma, o Basalioma e o Carcinoma Espinho-celular, mas na pele podem ocorrer outros cancros como o carcinoma de Células de Merkel, o Sarcoma de Kaposi (relacionado ou não com a SIDA), diversos tipos de linfomas, etc.. O Basalioma, é o cancro cutâneo mais frequente. Tem origem nas células da camada basal da epiderme e atinge sobretudo os indivíduos de pele clara expostos cronicamente ao sol: trabalhadores rurais, pescadores, trabalhadores da construção civil, etc. Surge habitualmente depois dos 40 anos e localiza-se preferencialmente nas áreas do corpo mais expostas ao sol: face, pescoço e dorso.
Manifestar-se sob a forma de um nódulo rosado e brilhante de crescimento lento ou de uma ferida superficial, que surge sem causa aparente e que não revela tendência para a cura espontânea. O Basalioma é um tumor que pode crescer lateralmente e em profundidade mas não dá lesões à distância (metástases). O tratamento, nas fases iniciais, é muito simples (cirurgia clássica com pequena margem de segurança, criocirurgia, laser) e resulta quase sempre na cura do tumor (taxas de cura superiores a 95%).
Todavia, se for deixado evoluir sem tratamento durante anos pode tornar-se muito agressivo localmente, invadindo e destruindo os tecidos circundantes, incluindo cartilagem e osso, e provocar grandes defeitos e mutilações sobretudo em certas áreas anatómicas (nariz, pavilhões auriculares, pálpebras, etc.). Mesmo nestas fases é muitas vezes possível curar o tumor recorrendo à cirurgia e à radioterapia. Só que o doente pode ficar desfigurado para o resto da vida.
O Carcinoma Espinocelular é o segundo tipo de cancro da pele mais frequente. Tem origem nos queratinócitos das camadas intermédias da epiderme e envolve não só a pele, mas também as mucosas (lábios, boca, língua, vulva, pénis). Atinge igualmente os grupos profissionais que estão cronicamente expostos ao sol, mas de grupos etários mais avançados que no basalioma.
No carcinoma espinhocelular outros factores cancerígenos além do Sol podem ser importantes: os carcinogénicos químicos como os hidrocabonetos do tabaco, a radiação ionizante (raios X ou cobalto terapia), alguns vírus como alguns tipos do vírus do papiloma humano (HPV). É o cancro das pessoas idosas com a pele muito envelhecida pelo sol. Surge nas áreas do corpo mais expostas (face, lábio inferior, pescoço, dorso das mãos e pernas) e quase sempre sobre lesões precursoras (dermatoses pré-cancerosas). Na maior parte dos casos surge sobre as chamadas queratoses solares, ou queratoses actínicas; mas também pode originar-se a partir de cicatrizes viciosas pós-queimadura, úlceras e fistulas crónicas, radiodermites crónicas.
O carcinoma espinocelular é um tumor mais agressivo e de crescimento mais rápido que o basalioma. Manifesta-se habitualmente sob a forma de um nódulo, de crescimento rápido, com tendência para ulcerar e sangrar facilmente ou de uma ferida que cresce e não cicatriza apesar do tratamento. Além de ser localmente invasivo pode, abandonado à sua evolução natural, dar origem a metástases à distância, que podem invadir órgãos vitais (fígado, pulmões) e provocar a morte. Todavia, quando diagnosticado e tratado a tempo tem elevadas taxas de cura.
As principais dermatoses pré-cancerosas, precursoras de carcinoma espinhocelular, são as queratoses actínicas e a queilite actínica. As queratoses actinicas são lesões em que a epiderme inicia um processo de desestruturação por agressão da radiação solar. São quase um cancro em início, mas ainda localizado apenas à epiderme. Encontram-se mais frequentemente em pessoas com mais de 50 anos de idade, de pele e olhos claros e em áreas de pele expostas ao sol como a face, o couro cabeludo, o dorso das mãos e, por vezes, o pescoço e o decote. O seu aspecto inicial é uma mancha “vermelha” áspera de cerca de 2-10 mm com escama aderente na sua superfície medindo que, ao longo do tempo, se não for tratada, pode tornar-se mais infiltrada e com crosta mais espessa e saliente de cor acastanhada.
Geralmente identificam-se melhor passando um dedo e sentindo a sua rugosidade. São causadas pelo efeito cumulativo da radiação ultravioleta, sendo vulgar a existência de várias no mesmo indivíduo. O tratamento das queratoses actínicas inclui a aplicação de cremes que provocam a remoção das células danificadas da epiderme ou diferentes técnicas, algumas realizadas em Consulta de Dermatologia como a criocirurgia ( a lesão é “destruída” pelo frio do azoto líquido) ou aplicação de líquido cáustico que efectua um “peeling”. Em lesões mais evoluídas pode ser importante realizar uma biopsia e efectuar uma excisão cirúrgica ou destruição com LASER.
O lábio inferior está também particularmente exposto à radiação ultravioleta e precedendo o carcinoma espinho celular do lábio surge frequentemente a queilite actínica (inflamação do lábio causada peloo sol). Manifesta-se por uma placa de coloração mais esbranquiçada por vezes o lábio fica mais áspero, a descamar ou com feridas ou erosões que não cicatrizam.
Carece dos mesmos tratamentos que as queratoses actínicas.
www.apcc.online.pt
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DERMATITES DAS FRALDAS
O termo “assadura” é muito frequente, referindo-se à irritação da pele do rabinho dos bebés que usam fraldas. Quando os pais falam de “assaduras” estão quase sempre a referir uma situação que é conhecida em Dermatologia como “dermatite irritativa primária da área das fraldas”, a dermatose mais frequente da área da fralda. As áreas convexas da área genital ficam vermelhas e irritadas enquanto que o fundo das pregas é poupando. Não se sabe ao certo quantos bebés sofrem deste incómodo, mas estima-se que atinja entre 25 a 65% das crianças. A incidência máxima ocorre entre os 6 e os 12 meses de idade.
É causada pela humidade, a fricção e o contacto com irritantes químicos e biológicos, como a urina e as fezes. No seu conjunto estes agentes comprometem a barreira cutânea e tornam a pele vulnerável a agentes infecciosos oportunistas, nomeadamente pelo fungo saprófita das mucosas, a Cândida albicans. Neste caso, a vermelhidão estende-se frequentemente ao fundo das pregas que ficam também vermelhas e brilhantes.
Geralmente as dermatites das fraldas resolvem-se ao fim de 2 a 3 dias, sem complicações. A prevenção e tratamento passam pelo uso de fraldas de tamanho adequado, superabsorventes, que devem ser frequentemente mudadas. A limpeza cutânea deve ser suave, sem fricção, e devem ser evitados produtos irritatantes (álcool, antisépticos ou perfume). O uso de emolientes ou pastas protectoras após cada muda de fralda, reduzem a maceração e o contacto com irritantes, e auxiliam a cicatrização.
Preparações em pó, como o pó de talco, são completamente desaconselhadas pelo risco de inalação respiratória. Em caso de complicação da dermatite das fraldas pode ser necessário recorrer ao uso de medicamentos de uso tópico, sob orientação médica.
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ECZEMA SEBORREICO OU DERMATITE SEBORREICA
O Eczema seborreico ou Dermatite seborreica é uma doença da pele dependente das hormonas sexuais e que portanto só existe no recém-nascido, que recebe hormonas da mãe, e após a adolescência.
No recém-nascido manifesta-se pela chamada “crosta de leite” acumulação de escamas oleosas aderentes ao couro cabeludo e, nas formas mais extensas, também nas pregas da face, pescoço, das axilas e da área das fraldas. A pele fica vermelha e com escamas gordurosas mas causa pouca comichão. Regride espontaneamente até aos 4-5 meses.
No adolescente e adulto a dermatite seborreica surge especialmente em zonas abundantes em glândulas sebáceas (cabeça e a parte superior do tronco). Em muitos casos surge no couro cabeludo, provocando a descamação habitualmente designada por “caspa”. No entanto, além do couro cabeludo, envolve outras partes do corpo ricas em pelos (sobrancelhas, bigode, barba) ou as pregas do corpo (nas pregas da face em redor do nariz ou orelhas, nas axilas, virilhas, sulco internadegueiro), provocando vermelhidão, borbulhas, descamação oleosa e prurido.
A dermatite seborreica é mais frequente em pessoas com pele oleosa, onde o fungo do género Malassezia pode contribuir para o agravar da reacção inflamatória. Surge, na maior parte dos casos, de forma espontânea, podendo, no entanto, ser potenciada por vários factores, como o stress, o cansaço físico e as alterações climatéricas. Pode ser particularmente exuberante em indivíduos com SIDA ou com Doença de Parkinson.
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ECZEMA ATÓPICO OU DERMATITE ATÓPICA
Calcula-se que cerca de 10% das crianças sofram de Eczema atópico, uma doença com inflamação e muita comichão na pele. Por mecanismos vários a pele reage a estímulos diversos que os outros indivíduos suportam perfeitamente. Manifesta-se habitualmente nos primeiros meses de vida e mais raramente em adultos jovens, mas pode também ocorrer no adulto.
Em cerca de 80% dos casos, no doente ou nos familiares, para além das manifestações cutâneas existem, ao longo da vida asma e/ou rinite alérgica. À tendência para este tipo de doenças chama-se atopia.
Os atópicos têm a pele seca e áspera, em consequência de alguma incapacidade para reter a água na camada córnea da epiderme devido a uma insuficiente produção de cimento (gordura) intercelular e alterações dos corneócitos. Caracteristicamente sentem prurido (comichão) quando transpiram facto que, aliado à já referida secura cutânea e a uma típica diminuição do seu limiar de sensibilidade para o prurido, os leva a coçar permanentemente o corpo. Ainda como consequência deste facto, as crianças manifestam muitas vezes perturbações do sono.
Quando o eczema atópico se manifesta nos primeiros meses de vida do bebé é habitual localizar-se na fronte e maçãs do rosto, poupando tipicamente as regiões à volta da boca e olhos, no couro cabeludo e nas partes laterais externas dos braços e pernas. Nesta fase as lesões são avermelhadas e ásperas, mas podem progredir em pequenas borbulhas com líquido, crostas e descamação.
A evolução é irregular, alternando períodos de agravamento e melhoria e a afecção pode regredir totalmente durante o segundo ano de vida ou prosseguir durante a infância, com características algo diferentes. O eczema fica mais seco com pele vermelha e áspera e descamação e localiza-se sobretudo às pregas dos cotovelos e joelhos, pulsos e a parte dorsal das mãos e pés.
A afecção tende a regredir mais cedo ou mais tarde até ao início da adolescência, mas alguns doentes permanecem com lesões durante muito mais tempo ou voltam a exibi-las na idade adulta. Nesta fase, além das localizações da infância, são principalmente afectadas as pálpebras, lábios, mamilos, área genital e as mãos.
Dada a “incompetência” da barreira de protecção da pele dos atópicos estes sofrem mais frequentemente infecções virusais da pele (moluscos contagiosos, verrugas vulgares e herpes simples), algumas infecções bacterianas (impétigo vulgar), e a sua pele torna-se mais seca e desenvolve eczema em ambientes quentes e muito secos e no contacto com detergentes fortes (sabões, champôs ou detergentes domésticos ou profissionais).
Assim, deve haver cuidados especiais na higiene da pele e na sua hidratação regular e na selecção de algumas actividades profissionais. Na realidade, os atópicos contribuem para cerca de 80% das doenças de pele profissionais na vida adulta.
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ERISIPELA E OUTRAS INFECÇÕES BACTERIANAS DA PELE
As infecções da pele podem ser relativamente superficiais, como o impétigo e o furúnculo, ou atingir as camadas mais profundas da pele e ser potencialmente graves, como a erisipela e a fasceíte necrosante (infecção pelas bactérias “carnívoras”).
O impétigo vulgar ou contagioso é uma infecção superficial da pele, mais frequente nas crianças atópicas, que se inicia muitas vezes na face, à volta das narinas, olhos e boca, e que depois se espalha a outros sítios por “auto-inoculação”. Ou seja, como dá comichão, a criança coça a pele com impétigo e transporta o estreptococo para outras áreas da pele. Formam-se então crostas amarelo-acastanhadas (da cor do mel) que alastram centrifugamente, por vezes com um halo vermelho à periferia. A prevenção passa por adequadas medidas de higiene, hidratação da pele dos atópicos e, quando surge a infecção, na desinfecção local e no uso de antibióticos locais e sistémicos.
O furúnculo surge nos locais onde há pelos mais grossos. Em redor de um destes forma-se uma área vermelha dolorosa onde surge pus amarelo e ao fim de alguns dias liberta o “carnicão” deixando uma pequena loca que evolui para cicatriz deprimida.
A erisipela é uma infecção frequente da pele causada por um estreptococo que penetra na pele através de uma ferida traumática, úlcera de perna, micose interdigital ou pé de atleta. Surge de forma rápida (1-2dias) e cursa com febre muito alta (39-40ºC), arrepios, mal-estar geral e uma placa vermelha inchada e muito dolorosa da pele, motivando a ida frequente a Serviços de Urgência. A placa vermelha estende-se em poucas horas e acompanha-se de gânglios dolorosos (ínguas).
Surge sobretudo em indivíduos diabéticos, obesos, habitualmente nas pernas, relacionada com insuficiência venosa (varizes) e linfática ou pé de atleta nos braços em mulheres mastectomizadas por cancro da mama ou, mais raramente, na face.
O tratamento com antibióticos orais ou injectáveis deve iniciar-se o mais rapidamente possível em repouso no leito, para evitar formação de abcessos ou uma infecção mais grave que deixa para sempre as pernas inchadas e endurecidas e atreitas a erisipelas de repetição.
A fasceíte necrosante é uma infecção ainda mais aguda que a erisipela, que atinge a pele mais profundamente, destrói o músculo e causa um estado de choque que pode ser fatal se não houver intervenção cirúrgica imediata para libertar o músculo. As bactérias que provocam esta importante destruição muscular chamam-se vulgarmente bactérias “carnívoras”.
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FOTOENVELHECIMENTO E ENVELHECIMENTO NATURAL
A exposição ao Sol e a outras fontes de radiação ultravioleta, como os solários, aceleram drasticamente e modificam o envelhecimento natural da pele.
As manifestações do fotoenvelhecimento (envelhecimento provocado pelo Sol) ocorrem tanto nas áreas normalmente expostas ao Sol (face, pescoço, decote e dorso das mãos) mas, nos indivíduos, que se expõem exageradamente na praia ou nos solários toda a pele sofre os efeitos.
As alterações ocorrem nas diversas camadas da pele. A epiderme, a camada mais superficial da pele, fica mais fina, com menos capacidade de regeneração, seca e baça e os melanócitos, responsáveis pela cor da pele, distribuem-se irregularmente. A ligação à derme fica mais frágil e na derme, a pele perde parte do seu tecido de suporte e das suas fibras elásticas, os vasos sanguíneos dilatam-se anormalmente e rompem mais facilmente e há tendência à acumulação de uma material elastótico amorfo que dá uma tonalidade amarelada à pele.
As alterações da cor da pele são das mais frequentes: os lêntigos actínicos (“sardas persistentes”) são pequenas manchas de milímetros a 1-2 cm de cor castanha regular que se distribuem pela face e dorso das mãos e, nos indivíduos expostos ao Sol em tronco nu, nos ombros e dorso; ao inverso, nas pernas e antebraços tendem a aparecer, muitas vezes desde a 3ª 4ª década, manchas redondas de 2-5 mm muito brancas e que nunca pigmentam – é a chamada hipomelanose em gotas.
Além, destas alterações surgem as rídulas e as rugas, mais superficiais ou mais profundas, por vezes separadas por pápulas (altos) amareladas dando um aspecto irregular à pele. É típico nos indivíduos cronicamente expostos ao Sol terem, nas maçãs do rosto e na face posterior do pescoço rugas profundas que parecem desenhar triângulos e rombóides e entre elas acumula-se um material amarelado e formam-se pequenos quistos e “pontos negros” – é a chamada “cutis romboidalis” da nuca.
Num padrão de envelhecimento particular, em vez de rugas profundas e acumulação deste material amarelado, o chamado padrão de envelhecimento vascular, por baixo da pele fina vêm-se à transparência os vasos sanguíneos muito dilatados, dando uma cor vermelha à face e faces laterais do pescoço que se interrompe sob o queixo (protegido do Sol). Com a exposição solar ou o calor esta pele tende a ficar muito vermelha e desconfortável.
Além destas alterações potenciadas pelo Sol, ao envelhecer a pele tende a perder a sua elasticidade, a tornar-se flácida e redundante em algumas áreas e a acumular alterações vasculares como os angiomas rubi (pequenas borbulhas de cor de vinho no tronco que começam com uma ponta de alfinete e podem chegar a pouco milímetros), os lagos venosos do lábio (bolha azulada cheia de sangue no lábio e que se pode esvaziar á pressão) ou a púrpura “senil” habitual nos antebraços (hemorragias da pele ao menor toque que formam manchas de cor de vinho que demoram a reabsorver e deixam a pele mais escura ou podem formar bolhas de sangue, romper e formar feridas). Surgem também com frequência tumores benignos com as queratoses ou verrugas seborreicas, habitualmente no tronco, lesões de várias tonalidades desde o amarelo acastanhado ao negro, lesões de pequenas dimensões até vários centímetros e que têm uma superfície alta e rugosa, podendo por vezes destacar-se com traumatismo ou no banho.
A maioria destas alterações, algumas que se podem confundir com lesões malignas, são facilmente reconhecidas pelo Dermatologista que tem à sua disposição diferentes técnicas para as tratar ou melhorar o seu aspecto estético. Além de tratamentos médicos pode recorrer a diferentes outras técnicas como LASERs, peelings, filers, toxina botulinica ou cirurgia.
Mas importa sobretudo prevenir, pelo menos as lesões que são induzidas pela radiação ultravioleta. Lembramos que além da evicção da exposição ao Sol e solários, há cuidados de fotoprotecção que podem ser benéficos, além do uso de fotoprotectores.
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FRIEIRAS
De um modo geral, o aparecimento de frieiras (perniose) é uma resposta inflamatória anormal ao frio. Assim, o maior factor de risco é a exposição ao frio e humidade, o que é frequente em Portugal, particularmente em habitações ou edifícios sem aquecimento central.
Afecta, preferencialmente, as mulheres, as crianças e idosos sendo que nestes últimos o curso da doença é mais grave. Distribuem-se, simetricamente nos dedos das mãos e pés, e, menos frequentemente, nos tornozelos, nariz e orelhas, e são nódulos que variam do vermelho ao violeta, por vezes ulceram (ficam em ferida) e, habitualmente, provocam dor, ardor e prurido.
As frieiras são auto-limitadas, melhorando ao fim de três semanas. Contudo, nos idosos e se houver manutenção da exposição aos factores desencadeantes, podem tornar-se crónicas.
É importante adoptar medidas preventivas gerais como usar vestuário adequado, evitar a exposição ao frio e humidade, manter pés e mãos quentes e secos e não fumar. As frieiras não necessitam de ser uma causa de sofrimento para a população, pelo que para prevenir o seu aparecimento é fundamental cumprir as medidas preventivas.
Um quadro sugestivo de frieiras, mas que se prolongue por mais de quatro semanas, deve ser motivo de consulta de Dermatologista para ser realizado um estudo mais detalhado.
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GRAVIDEZ - ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DA PELE
Durante a gravidez, assiste-se a profundas alterações imunológicas, metabólicas, endócrinas e vasculares, que tornam a pele da grávida susceptível a transformações que na grande generalidade dos casos, embora sendo normais e fisiológicas, podem gerar alguma ansiedade.
Alterações da pigmentação: A hiperpigmentação é um fenómeno frequente; ocorre em cerca 90% das grávidas. Observa-se especialmente uma acentuação da coloração das áreas já pigmentadas, como as aréolas mamárias, genitais, axilas e linha alba (linha vertical mediana, acima e abaixo do umbigo). Pode também condicionar a acentuação da coloração de sinais e cicatrizes existentes antes da gravidez. O melasma ou cloasma (a “máscara da gravidez”) é comum e afecta as áreas centrais do rosto (nariz e maçâs do rosto) com coloração castanho-acinzentada, por aumento dos depósitos de melanina na epiderme e/ou na derme. A luz ultravioleta e a luz visível podem agravar o melasma e mesmo induzir a sua perpetuação. Na maioria dos casos, a “máscara” desaparece no pós–parto podendo, contudo, verificar-se recorrência com a gravidez seguinte ou com o uso de contraceptivos orais.
Alterações das unhas e cabelo: Pode verificar-se um aumento da quantidade de pêlos (hirsurtismo), especialmente na face, braços, pernas e dorso, que normalmente regride nos seis meses após o parto. Durante a gravidez, o período de anagénese (crescimento) do cabelo prolonga-se e no pós-parto um maior número de folículos pilosos entre em fase de queda (telogénese) notando-se uma perda acentuada de cabelo cerca de 3 meses após o parto, um fenómeno designado por deflúvio pós parto.
As unhas também podem sofrer alterações, como por exemplo, o aparecimento de estrias transversais.
Alterações glandulares: Durante a gravidez, ocorre um aumento da função hormonal o que pode significar uma maior produção sebácea e um aumento da oleosidade da pele e do cabelo.
O efeito da gravidez sobre outras situações, como por exemplo, a acne é imprevisível, mas é possível em algumas grávidas, verificar-se um agravamento no primeiro trimestre da gestação. Durante o período de gestação, as glândulas sebáceas da aréola da mama aumentam e podem aparecer umas pequenas pápulas castanhas denominadas de “glândulas de Montgomery”.
Alterações no tecido conjuntivo: As “temidas” estrias gravídicas (striae gravidarum) desenvolvem-se na maioria das mulheres entre o sexto e o oitavo mês de gravidez, sendo os locais mais frequentes de aparecimento, o abdómen, zonas mamárias, coxas e virilhas.
Alterações vasculares: As transformações vasculares resultam da distensão, instabilidade e proliferação dos vasos e tendem a regredir depois do parto. São frequentes a dilatação dos vasos sanguíneos superficiais e o aparecimento de algumas situações como pequenos derrames ou até as varizes. A instabilidade vasomotora pode gerar ainda flushing facial, palidez, sensação de calor e frio, entre outras.
É importante que, quer o médico, quer a grávida saibam reconhecer estas alterações fisiológicas para que se evitem preocupações e tratamentos desnecessários.
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HERPES SIMPLES E HERPES GENITAL
O que é o herpes simples?
O herpes simples é uma infecção muito comum da pele e mucosas causada pelo vírus com o mesmo nome – o vírus herpes simples.
Há 2 tipos: o vírus herpes simples tipo-1 e o vírus herpes simples tipo-2. O 1º é o responsável pela maioria dos casos do chamado herpes labial e o 2º é o principal responsável pelo herpes genital.
O vírus herpes simples afecta grande parte da população mundial em todo o mundo e o homem é o seu reservatório natural. Esta infecção já é conhecida desde a antiguidade e a designação “herpes” foi criada pelos gregos antigos como sinónimo de “rastejante” para ilustrar o tipo de erupção na pele. Actualmente pensa-se que quase 90% dos adultos tenha tido contacto com o vírus.
Como se transmite o vírus?
O contágio com o vírus herpes tipo 1 é feito na maioria dos casos na infância e a maior parte das vezes estas infecções são assintomáticas isto é passam despercebidas. O vírus tipo 1 transmite-se pela saliva e através de secreções contaminadas. A transmissão do vírus tipo 2 é feita por contacto sexual e ocorre principalmente a partir da puberdade. Recentemente têm surgido mais casos de herpes genital provocados pelo vírus herpes tipo -1 devido à prática de sexo oro-genital. Pode haver transmissão do vírus mesmo quando não há lesões visíveis o que contribui para a dificuldade na prevenção desta afecção. Quando uma pessoa é infectada com o vírus herpes simples, esta infecção mantém-se para toda a vida.
Caracteristicamente as infecções pelo vírus herpes decorrem em 3 fases: surge primeiro a infecção inicial – chamada primo-infecção, no local de contágio. Aqui o vírus multiplica-se e vai-se alojar numas estruturas nervosas da vizinhança onde se mantém como que adormecido, num estado pouco infeccioso - é a chamada fase de latência; após um período de tempo variável, pode voltar a migrar para a pele dando origem à recorrência. Depois de cada recorrência há novamente regresso á fase de latência e assim sucessivamente.
Num primeiro episódio de Herpes labial é costume haver sintomas iniciais (que se chamam em linguagem médica, pródromos) como febre, falta de forças, sensação de ardor e picada, formigueiro, uns dias antes de aparecimento na pele de pequenas vesículas ou “bolhinhas” de água agrupadas sobre uma mancha avermelhada acompanhadas de prurido (comichão); estas podem tornar-se mais amareladas, acabam por romper dando lugar a crostas e pequenas feridas que acabam por cicatrizar em 2 a 3 semanas, sem deixar marca.
Nos episódios mais exuberantes pode também haver uma inflamação dum gânglio submaxilar (ou íngua). Entra-se depois na fase de latência e ao fim de algum tempo podem voltar a aparecer lesões próximo das do episódio inicial. Temos então o herpes recorrente. Aqui as lesões são menos exuberantes, dão menos incómodo e têm menor duração, geralmente curam em 3 a 7 dias. Com o avançar da idade os episódios de herpes recorrente tendem a diminuir de intensidade e de frequência.
As lesões provocadas pelo vírus herpes tipo-1 são mais frequentes nos lábios e boca mas podem surgir noutros locais: na pele à volta dos lábios, no nariz e nas regiões malares (bochechas). Nas crianças manifesta-se muitas vezes na mucosa oral (gengivo-estomatite) e orofaringe.
O Herpes genital é semelhante ao herpes labial mas geralmente mais exuberante. No homem as primo-infecções são mais frequentes na glande e prepúcio e podem ser muito dolorosas. O mesmo se passa na mulher em que podem ocorrer lesões na vulva, vagina e áreas próximas podendo ser acompanhadas de outros sintomas como dor e dificuldade em urinar e “íngua”. As recorrências são comuns nas nádegas. Na gravidez pode raramente ocorrer transmissão da doença ao bebé, se houver uma primo-infecção de herpes genital na altura do parto e isso poderá ser motivo para realização de cesariana.
E o que provoca as recorrências?
Não se sabe ao certo porque é que o vírus volta a estar activo mas sabe-se que há vários estímulos que podem desencadear um novo episódio: situações de stress (todos que sofrem desta afecção têm a experiência que o herpes surge nas alturas menos adequadas…!), quando se tem febre, após uma exposição solar, na altura da menstruação, por traumatismo local ou por imunossupressão.
Como se trata?
Ainda não dispomos duma “arma “ eficaz que elimine o vírus definitivamente. O Herpes simples no entanto e na grande maioria dos casos, cura por si e evolui sem problemas, sendo muitas vezes suficientes apenas medidas de desinfecção local.
Existem antivirais para aplicação local (cremes) que podem diminuir os sintomas e acelerar a cura das lesões. Nos casos mais graves, quando as recorrências são muito frequentes e em situações especiais, poderá haver necessidade de recorrer a antivirais sistémicos (comprimidos ou injectáveis) mas sempre sob indicação médica.
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LÚPUS ERITEMATOSO
O Lúpus Eritematoso é uma doença auto-imune, ou seja em que o sistema imune luta contra o próprio organismo. A doença pode atingir um ou múltiplos órgãos, estando a pele frequentemente envolvida. Existem contudo diferentes formas clínicas, com evolução e prognóstico muito variado:
Lúpus Eritematoso Cutâneo Crónico: quase exclusivamente manifestações cutâneas.
Lúpus Eritematoso Cutâneo Subagudo: essencialmente manifestações cutâneas, envolvimento sistémico ligeiro.
Lúpus Eritematoso Sistémico: envolvimento sistémico e lesões cutâneas pouco exuberantes.
Lúpus Eritematoso Cutâneo Crónico (“Lúpus Eritematoso Discoide”)
Caracteriza-se por lesões crónicas e persistentes vermelhas e com descamação, bordo mais castanho e centro mais atrófico e deprimido, lesões que se não forem tratadas atempadamente deixam cicatrizes. As lesões localizam-se nas áreas expostas ao Sol, fronte, região malar (maçãs do rosto), pavilhões auriculares, nariz e região mentoniana e no couro cabeludo, onde pode causar perda definitiva do cabelo. Só uma pequena percentagem destes doentes tem envolvimento de órgãos internos.
Lúpus Eritematoso Cutâneo Subagudo
O Lúpus Eritematoso Cutâneo Subagudo é uma forma particular da doença lúpica, com fotossensibilidade marcada (agravamento com a exposição solar) e lesões anulares vermelhas e descamativas das áreas expostas ao sol (face, decote e dorso), que resolvem sem cicatriz. Afecta sobretudo mulheres, e tem um padrão de análises muito típicas – presença de anticorpos anti-nucleraes e anti-Ro, anemia e baixa de glóbulos brancos. O envolvimento de órgãos internos, como a inflamação das articulações – artrite - e afectação do rim, é habitualmente pouco intensa.
Lúpus Eritematoso Sistémico
O Lúpus Eritematoso Sistémico é uma doença muito heterogénea que atinge essencialmente mulheres jovens. A manifestação típica na pele surge habitualmente de forma aguda e transitória, sem deixar cicatriz e como uma mancha vermelha em “asa de borboleta” ou “borboleta” pois envolve o nariz e as maçãs do rosto, respectivamente, o corpo e as asas da borboleta. Também agravam com o Sol e podem coexistir com feridas superficiais dentro da boca e/ou. Das anomalias do sangue, salientam-se os anticorpos antinucleares dirigidos contra o ADN nativo. O envolvimento de vários órgãos internos é habitualmente marcado mas muito variado de doente para doente: reumatismo lúpico, inflamação do rim (nefrite), baixa dos glóbulos brancos e plaquetas do sangue (com hemorragias), alterações dos pulmões, coração e mesmo manifestações cerebrais, situações que podem colocar a vida em risco e obrigam ao tratamento com medicamentos imunossupressores potentes.
É importante retirar a má conotação sobre a doença – LUPUS – pois há todo um leque de manifestações clínicas de gravidade muito díspar e, com os tratamentos disponíveis, o prognóstico está significativamente melhorado.
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MELANOMA
Todos os anos surgem em Portugal cerca de 1000 novos casos de melanoma.
O melanoma é o tipo de cancro da pele mais agressivo e um dos tumores malignos mais agressivos da espécie humana, em particular quando não detectado na sua fase inicial.
O diagnóstico precoce é fundamental para o bom resultado do tratamento!
O melanoma resulta da transformação maligna dos melanócitos, as células produtoras de melanina e responsáveis pela coloração da pele. Pode surgir sobre sinais pré-existentes (nevos pigmentados) que sofrem alteracões da cor, tamanho ou bordos, ou como um sinal novo em pele aparentemente sã. Localiza-se em qualquer parte do corpo (mais na face, tronco e pernas, nas mulheres) ou nas mucosas (boca, recto, olho) e tende a envolver indivíduos mais jovens que os outros cancros de pele.
As pessoas com maior risco de desenvolver melanoma são as de pele clara, cabelo ruivo ou loiro, olhos azuis ou esverdeados, dificuldade em bronzear, tendência para formar sardas e com muitos sinais de cor castanha escura, irregulares disseminados pelo corpo.
Ao contrário dos outros tumores da pele, que estão relacionados com a exposição crónica ao sol, o melanoma maligno parece estar mais associado à exposição solar intermitente, aguda e intempestiva, muitas vezes acompanhada de queimaduras solares ("escaldões").
O aspecto inicial do melanoma é variado mas habitualmente caracteriza-se pelo aparecimento de um pequeno nódulo ou mancha, de cor negra de alcatrão, sobre pele aparentemente sã ou sobre um sinal preexistente. Obedece habitualmente à regra do “ABCD” – Assimetria da lesão, Bordo irregular e esfumado nalgumas áreas, Cor heterogénea, Dimensão superior a 6 mm.
O melanoma tem uma fase precoce de crescimento superficial (fase de crescimento horizontal) que pode durar meses, ou até anos, e uma fase mais tardia de crescimento em profundidade (fase de crescimento vertical), em que o sinal cresce para o interior da pele e pode largar células que vão dar metástases nos gânglios, fígado, pulmões ou cérebro.
O tratamento é quase sempre cirúrgico e, quando efectuado nas fases iniciais, em que o tumor ainda e muito fino (espessura inferior a 0,75 mm), acompanha-se de elevadas taxas de cura. Todavia quando o tumor já é mais espesso (maior que 1,5 mm) as probabilidades de cura ficam bastante reduzidas, existindo o risco eminente de metastização à distância.
O diagnóstico precoce é fundamental para o sucesso do tratamento! O Dermatologista, apoiando-se muitas vezes na Dermatoscopia, reconhece o Melanoma nesta fase precoce ou, perante qualquer dúvida, realiza a excisão do sinal e procede ao seu estudo Dermatopatológico.
Quais são os sinais de Alarme?
Aparecimento recente de um sinal de cor negra que até então não existia.
Modificação de um sinal já existente:
Alteração do tamanho (crescimento recente);
Alteração da forma (contorno irregular).
Alteração da cor (várias tonalidades no mesmo sinal - negra, castanha, rosada, azulada).
Aparecimento de prurido (comichão) sobre o sinal.
Aparecimento de inflamação (vermelhidão).
Aparecimento de ulceração (ferida).
Aparecimento de hemorragia (sangra facilmente).
Faça a avaliação regular do seu corpo, incluindo palmas das mãos e plantas dos pés e as zonas com pêlos, como a área genital
www.apcc.online.pt
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MOLUSCO CONTAGIOSO
O molusco contagioso é uma doença viral, cuja transmissão ocorre pelo contacto directo com pessoas contaminadas. Atinge preferencialmente as crianças atópicas mas em casos mais raros, pode atingir adultos principalmente em áreas de pele mais fina ou na área genital quando são transmitidos por contacto sexual.
O molusco contagioso caracteriza-se pelo aparecimento de pequenas lesões elevadas, hemisféricas, da cor da pele, com aspecto translúcido e apresentando umbilicação central. Podem estar isoladas (mais comum) ou em pequenos grupos. Em algumas crianças, as lesões disseminam-se muito rapidamente, podendo atingir as centenas de leões, frequentemente localizadas no tronco e raiz dos membros. Embora geralmente não causem incómodo, por vezes estas lesões geram um prurido (comichão) discreto e geram eczema em seu redor.
O tratamento consiste na destruição das lesões através de técnicas como a curetagem, crioterapia, eletrocoagulação ou cauterização química. E deve iniciar-se às primeiras lesões, evitando a sua disseminação.
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PÉ DE ATLETA E OUTRAS MICOSES
A tinha dos pés ou tinea pedis, vulgarmente conhecida como “pé-de-atleta”, é causada por fungos da família dos dermatófitos. Trata-se de uma afecção bastante comum em todo o mundo. É mais comum nos meses de Verão e também nos climas tropicais e subtropicais, assim como em comunidades fechadas (como equipas de atletas ou organizações militares). A incidência do pé-de-atleta é também maior em pessoas que usam calçado fechado e em indivíduos que frequentam piscinas e chuveiros públicos.
Trata-se de uma infecção transmitida habitualmente de pessoa a pessoa, quer através do contacto directo, quer através do solo ou de objectos contaminados, uma vez que os fungos causadores têm a capacidade de sobreviver nestes ambientes, sobretudo se houver condições óptimas de calor e humidade.
A manifestação mais comum do pé-de-atleta é a descamação e fissuras (comummente chamadas “gretas”) nos espaços entre os dedos dos pés e por vezes também por baixo destes. Esta descamação pode depois espalhar-se para a planta dos pés quase sem vermelhidão e, mais raramente, ou associar-se a pequeninas bolhas com água ou pus na planta dos pés, neste caso já acompanhadas de vermelhidão. Pode haver comichão ou mesmo sensação de ardor ou dor se as fissuras estiverem presentes. A transpiração aumentada dos pés é uma queixa frequente e que pode facilitar o aparecimento das lesões.
É importante tratar o pé-de-atleta para prevenir possíveis complicações, como por exemplo infecções da pele provocadas por bactérias, que penetram através das fissuras entre os dedos.
O tratamento pode consistir apenas na aplicação de cremes antifúngicos, ou associar-se também a comprimidos. A prevenção das recorrências da doença não é fácil, uma vez que os fungos podem sobreviver no solo ou nas roupas, e transmitir-se entre pessoas. É importante controlar a humidade dos pés; usar calçado arejado sempre que possível; evitar andar descalço em balneários, piscinas, etc., evitar partilhar vestuário, toalhas ou outros objectos de uso pessoal.
O pé-de-atleta pode acompanhar-se de micoses das unhas dos pés, e das virilhas. Estas manifestam-se por uma vermelhidão que forma um bordo com um ou vários círculos que partem das virilhas para a face interna das coxas e, mais raramente, para as nádegas e parte do abdómen. Nas crianças podem atingir o couro cabeludo e, muitas vezes, por contacto com um cão ou gato mal cuidado, a criança aparece com várias lesões em anel vermelho e a descamar, seja na face, braços ou tronco, anéis que crescem centrifugamente a partir do local onde o fungo entrou na pele.
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PELE SECA
A xerose cutânea ou pele seca é uma pele com pouca água na camada mais exterior da pele (estrato córneo) que funciona como barreira epidérmica que retêm água nesta camada da pele e que regula a perda de água para o exterior (transpiração insensível).
A pele seca é uma pele baça, áspera, que tende a descamar com pequenas peles brancas muito finas que se destacam facilmente, como “flocos de farinha”. Nas formas mais graves tende a formar pequenas fissuras superficiais que limitam escamas poligonais (como as fissuras da lama seca de um pântano) ou fissuras mais profundas dolorosas em locais onde o extracto córneo é mais espesso, como nas palmas das mãos. A pele muito seca tende a provocar comichão, sobretudo após as medidas de higiene com sabões e água quente ou quando exposta ao ar quente e seco (perto de lareiras e outras fontes de calor) ou ao vento frio e seco do Inverno.
Por agravamento da secura ou por abuso de sabões, detergentes, álcool ou outros irritantes nesta pele tende a surgir um eczema – reacção inflamatória com comichão – que se designa muitas vezes “eczema craquelée” porque a inflamação parece desenhar fissuras reticuladas ou anulares como as fissuras da porcelana velha.
A pele seca pode estar associada a algumas doenças de pele, como o eczema atópico e as ictioses em que o extracto córneo é doente, ou por deficiência dos corneócitos (tijolos) ou dos lípidos (cimento) entre as células (link – a pele estrutura). A pele seca é também frequente no idoso em que a constante renovação das células do estrato córneo e os mecanismos de reparação da barreira face às agressões ambientais estão diminuídos.
A exposição a alguns ambientes profissionais, o exagero de banhos e aplicação de sabões na pele, o uso de medicamentos para baixar o colesterol que interferem com a formação do cimento intercelular, pode causar pele seca em particular em indivíduos susceptíveis.
A prevenção passa pelas correctas medidas de higiene (link higiene da pele), evicção dos ambientes ou outros factores agravantes e pela hidratação da pele com várias preparações locais (hidratantes ou emolientes em leite, creme, bálsamo ou pomada), aplicadas preferencialmente a seguir ao banho.
Nalguns indivíduos estas medidas têm que ser prolongadas por toda a vida.
Tome Nota!
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Ao contrário do habitualmente divulgado, em condições normais, a ingestão de líquidos não tem qualquer relação com o grau de hidratação da pele.
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PÊLOS EM EXCESSO
As dúvidas causadas por excesso de pêlos (hisurtismo ou hipertricose) são frequentes. O Homem, como todos os mamíferos, tem o corpo coberto por pêlos, na maior parte pêlos finos. Por outro lado, há algumas áreas circunscritas do corpo onde crescem pelos mais espessos desde a nascença, como o cabelo, sobrancelhas, pestanas, e outros que crescem só após a adolescência dependendo de hormonas sexuais - barba, axilas, pêlos púbicos – e que têm uma distribuição diferente entre os sexos.
Pode haver um aumento generalizado da pilosidade, fundamentalmente em termos de quantidade, respeitando no entanto a distribuição anatómica habitual – é a HIPERTRICOSE. Pode estar relacionada com factores familiares, étnicos ou, com a ingestão de alguns fármacos, distúrbios metabólicos ou nutricionais (incluindo a síndrome de má absorção), hipotiroidismo, anorexia, ou desnutrição.
Noutros casos o exagero dos pêlos, designado por HIRSUTISMO, ocorre por alteração da quantidade mas sobretudo da distribuição dos pêlos, por exemplo o aparecimento de pêlos grossos no queixo, na linha média do abdómen e nos mamilos na mulher. Neste caso pode estar relacionado com algum distúrbio endócrino (hormonal) ou, em casos mais raros, com alguns tumores ou outra patologia do sistema endócrino que importa diagnosticar e tratar.
As pessoas que sofrem desta situação procuram muitas vezes soluções de eliminação definitiva, ou de longa duração, dos pêlos excessivos, não sabendo que estão, muitas vezes a atacar o sintoma e não a resolver a verdadeira causa do excesso de pêlos. Tal pode ser responsável pelo insucesso das tentativas de eliminação dos pêlos. A consulta de Dermatologia é fundamental para apurar a razão por detrás desta situação.
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PIOLHOS
A infestação por piolhos (ou pediculose) é um fenómeno universal e de rápida disseminação em aglomerados populacionais como escolas ou lares. A transmissão ocorre por contacto directo cabeça a cabeça, ou pelo contacto com roupas contaminadas.
Na pedidulose capitis, ou do couro cabeludo, para que haja um diagnóstico adequado, é necessário analisar todo o couro cabeludo, tendo em especial atenção às zonas por detrás das orelhas e a nuca. A principal manifestação clínica é o prurido (comichão) nos locais afectados, juntamente com vermelhidão e pequenas pápulas nos locais das picadas ou crostas secundárias ao coçar e a infecção da pele.
O diagnóstico de pediculose faz-se pela visualização do parasita vivo e/ou das lêndeas (ovos colados ao cabelo). A distância das lêndeas à raiz do cabelo evidencia a duração da infestação.
A infestação por Pthirus pubis, ou piolho púbico, inicia-se habitualmente na região púbica sendo possível visualizar o piolho, maior e mais achatado, de cor acinzentada junto à “raiz” dos pêlos. Ocorre habitualmente por transmissão sexual, mas além da região púbica, o parasita pode ser encontrado em qualquer local com pêlo, especialmente nas pernas, tronco, barba e pestanas.
Tratamento
A chave para um tratamento eficaz é o tratamento do doente infectado e de todos os seus contactos. Além disso, está recomendada a lavagem a altas temperaturas (a mais de 60ºC) da roupa do doente e da roupa de cama e de banho.
São várias as opções farmacológicas de tratamento disponíveis na farmácia. A remoção mecânica dos piolhos e das lêndeas deve ser realizada em simultâneo com este. Para isso, pode-se utilizar um pente especial de dentes finos nos cabelos húmidos, de forma bissemanal durante duas semanas.
Tem-se verificado nos últimos anos, um aumento das resistências aos tratamentos de uso tópico. Nesses casos a terapia rotacional e a combinação com medidas mecânicas são a melhor forma de lidar com este problema.
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PITIRÍASE ROSADA OU PITIRÍASE RÓSEA
A pitiríase rosada é uma doença de pele relativamente frequente em adolescentes e jovens adultos de ambos os sexos. Surge com maior prevalência no Outono e a sua causa continua um mistério, embora uma infecção por vírus seja a mais provável.
Como se manifesta?
Cerca de metade dos doentes tem uma mancha inicial (também chamada “medalhão” ou “mancha mãe”) localizada no tronco, com 2 a 5 cm de maior diâmetro. A mancha é inicialmente vermelha, adquirindo depois um tom rosa pálido (rosado) com uma descamação fina à periferia (a palavra pitiríase significa escama).
Esta lesão inicial pode passar despercebida ou ser erradamente diagnosticada e tratada como uma infecção provocada por um fungo. Dias a semanas depois, de forma quase súbita surgem mais manchas no tronco, braços e raiz das coxas, situação que pode alarmar o doente e que geralmente condiciona a ida ao médico. São manchas mais pequenas que a “mancha mãe”, mas igualmente bem demarcadas, redondas ou ovaladas, e com a mesma descamação anular periférica. Curiosamente as manchas podem seguir a direcção das costelas, desenhando um padrão conhecido como “pinheiro de Natal”. A comichão não é frequente.
Quanto tempo dura?
Surgem depois, por surtos, novas lesões pequenas e a doença regride espontaneamente ao fim de cerca de 4-6 semanas, mas pode durar até 3 a 4 meses. Salienta-se que cura espontaneamente e que as recorrências são incomuns (aproximadamente em 1%).Não necessita de tratamento, a não ser para aliviar a comichão quando esta está presente.
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PSORÍASE
A psoríase é uma doença inflamatória que se manifesta principalmente na pele, mas que também pode atingir outras áreas, como as articulações ou as unhas. É relativamente frequente, afectando cerca de 2% da população. Trata-se de uma doença não contagiosa, crónica, com evolução variável de doente para doente. A sua causa continua mal esclarecida; sabe-se no entanto que estão envolvidos factores genéticos e factores ambientais.
Surge frequentemente no adulto jovem, mas pode aparecer em qualquer idade. A intensidade da doença é variável, não sendo possível prever a sua evolução. Existem desencadeantes conhecidos: o stress, as épocas do ano, o consumo de álcool e alguns medicamentos são exemplos bem ilustrativos do papel do meio externo sobre a doença.
Existem vários tipos de psoríase, em função das características das lesões e do eventual atingimento das unhas ou das articulações.
A forma mais frequente é a psoríase em placas, caracterizada pela presença de placas rosadas ou avermelhadas, cobertas por escamas brancas ou de cor acinzentada ou prateada, por vezes com prurido (comichão). As lesões são de dimensões variáveis e atingem preferencialmente a pele dos cotovelos, dos joelhos e do couro cabeludo; no entanto qualquer área corporal pode estar afectada.
A psoríase ungueal também é frequente e associa-se habitualmente a outros tipos de psoríase. Embora raramente, as unhas podem ser afectadas de forma exclusiva.
As alterações mais comuns são o descolamento parcial da unha do seu leito (onicólise), o espessamento da unha que fica amarelada (por hiperqueratose subungueal), as alterações da cor e as irregularidades da superfície ungueal, tal como a presença de ponteado na unha (depressões punctiformes), como se tivesse sido picada com um prego fino.
A psoríase artropática caracteriza-se pela presença de inflamação de uma ou mais articulações (artrite). A doença articular provoca dor e limitação funcional, interferindo com a capacidade de executar movimentos, por vezes de modo irreversível.
Existem ainda outras formas particulares e mais raras de psoríase, de que são exemplo a psoríase em gotas ou psoríase guttata (as manchas de psoríase são pequenas e dispersas no tronco como se tivessem caído gotas de chuva na pele), a psoríase pustulosa (as manchas ficam cheias de “lagos” de pus, tornam-se dolorosas e associam-se a mal estar e febre) e a psoríase eritrodérmica, em que todo o corpo fica vermelho e a descamar sem se individualizarem as manchas da psoríase e sem, ou quase sem, se ver pele normal.
Quanto ao tratamento, existem diversas modalidades de tratamento ao alcance do Dermatologista, que ajudam a controlar esta doença, não sendo, todavia, curativas: tratamentos tópicos, os medicamentos sistémicos, o tratamento com raios ultravioletas – fototerapia. Estes 2 fármacos últimos, assim como os fármacos biológicos, devem ser utilizados com alguma cautela sob vigilância do Dermatologista.
A terapêutica tem de ser individualizada, consoante o tipo de psoríase e os tratamentos previamente efectuados, a existência de outras doenças associadas (diabetes, Hipertensão arterial, “gordura no sangue” e também consoante as capacidades da paciente e o impacto que a psoríase pode ter na sua qualidade de vida.
As medidas gerais, integradas num conceito de estilo de vida saudável, também são benéficas. A fototerapia consiste no tratamento com recurso à radiação ultravioleta (UV). A radiação UV também existe na radiação solar e o seu uso doseado provoca a melhoria das lesões.
Este tipo de tratamento é comummente realizado em cabines, cujo interior é revestido por lâmpadas especiais, produtoras deste tipo de radiação. As várias modalidades de fototerapia (PUVA, UVB, etc.) exigem por norma algumas semanas de tratamento e várias sessões, habitualmente 3 ou 4 por semana para a remissão da psoríase.
O acompanhamento médico é muito importante. Tendo em conta a longa evolução da doença, é possível surgirem problemas relacionados com o uso inadequado de qualquer tratamento.
Finalmente, é essencial realçar o grande impacto que esta doença tem, na qualidade de vida de muitos doentes.
Os órgãos de comunicação social podem ajudar a combater algum estigma social que persiste e também a alertar a população para os perigos da publicidade enganosa. Como nota de optimismo, não esquecer que a investigação científica não pára e o que futuro promete novidades.
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ROSÁCEA
É uma doença de pele comum que se caracteriza por uma vermelhidão que inicia no centro da face, progredindo gradualmente para as maçãs do rosto, testa e queixo. A sua causa exacta é ainda desconhecida.
As mulheres têm rosácea mais frequentemente do que os homens. Adultos de pele clara entre os 30 e 50 anos são os mais afectados, mas também pode ocorrer em homens ou mulheres de qualquer idade e até em crianças.
As doenças que mais se assemelham à rosácea e que também podem coexistir são a acne e a dermatite seborreica e o lúpus eritematoso, com a mancha da face em borboleta.
Como reconhecer a rosácea
O sintomas iniciais são tendência para corar facilmente (rubor facial) e/ou intolerância a cosméticos, ao Sol ou ao calor. A esta fase, que pode durar meses ou anos, segue-se uma fase de vermelhidão persistente, de aparecimento de pequenos vasos na superfície da pele, vulgarmente designada cuperose, e progressivamente surgem minúsculas “borbulhas” rosadas, algumas delas com pús, em cima ou à volta das áreas vermelhas. Ao contrário da acne, não se observam comedões (“pontos negros”).
Em casos avançados, a inflamação crónica e o aumento de volume das glândulas sebáceas causam deformação do nariz designada rinofima, que é muito mais frequente nos homens. Embora o nariz seja o local mais frequente, também pode ocorrer raramente na testa, maçãs do rosto e orelhas. Algumas pessoas com rosácea têm envolvimento ocular, traduzido por vermelhidão, sensação de ardor e/ou de corpo estranho no olho (rosácea oftálmica).
Como tratar a rosácea
Os tratamentos disponíveis visam o seu controlo e não a sua cura. A auto-medicação está contraindicada porque muitos cosméticos e medicamentos podem piorar o problema. É o caso dos corticóides que, podendo produzir inicialmente uma falsa sensação de alívio da vermelhidão, na realidade agravam a rosácea, sendo mesmo uma das suas causas (rosácea cortisónica). É por isso importante o aconselhamento junto de um Dermatologista.
As medidas que previnem as crises de rubor facial são as que estão ao alcance do doente:
Dieta: não há uma dieta específica. O doente deve conhecer os alimentos que lhe provocam rubor, que são em geral os alimentos condimentados, as bebidas quentes, a cafeína e as bebidas alcoólicas.
É comum associar-se a rosácea ao alcoolismo, o que é incorrecto. Pessoas que não têm hábitos alcoólicos podem ter uma rosácea tão ou mais grave do que as que os têm.
Evitar ambientes excessivamente quentes ou frios ou poluídos
Evitar cosméticos irritantes (alguns sabões, cremes, etc)
Efectuar uma boa protecção solar (evitar exposição nas horas de maior calor, usar chapéu e protector solar com índice de protecção igual ou superior a 15)
O Dermatologista geralmente recomenda um tratamento combinado, adequado à fase em que se encontra a doença e ao tipo de pele do doente. Este pode ser exclusivamente tópico (aplicação na pele de cremes ou geles) ou associado a tratamento por via oral.
Estas medidas melhoram significativamente a maioria dos sintomas, excepto a tendência para ruborizar e a vermelhidão persistente, que aliviam apenas parcialmente.
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SARNA
A sarna ou sarcoptose, tradicionalmente considerada uma doença da falta de higiene, continua a existir nas nossas comunidades, desde o bebé recém-nascido contagiado pela mãe aos mais idosos que convivem em lares em que os trabalhados podem ser um importante veículo de transmissão do ácaro da sarna, o Sarcoptes scabiei. Na adolescência e idade adulta a transmissão por contágio sexual ou partilha de roupa ou do leito é também frequente, pois o ácaro pode persistir algumas horas fora do corpo humano, sobretudo em ambientes mais quentes.
Fora de um contexto epidemiológico conhecido (familiares ou parceiro/a com a doença) o diagnóstico de sarna torna-se por vezes difícil e necessita da perícia de um Dermatologista. A sarna provoca tipicamente muita comichão, sobretudo à noite (facto comum a muitas outras doenças) e as lesões da pele são muito subtis. Pequenas lesões vermelhas infracentimétricas lineares na cintura, mamilos, punhos, palmas e dedos das mãos, ou pequenas vesículas ou crostas ou lesões lineares de arranhamento um pouco por todo o tronco, são as formas subtis de expressão da sarna no indivíduo com medidas de higiene regular. Muitas vezes só quando já existem nódulos escabióticos na área genital (pequenos altos violáceos e levemente salientes), marca de uma sarna de longa evolução, ou quando vários membros da família ou da instituição se começam a coçar-se é que se faz o diagnóstico correcto. Ao contrário, importa lembrar que a sarna não é a única doença de pele que dá comichão à noite e não se deve tratar intempestivamente uma dermatose que não responde ao tratamento habitual da sarna: este agrava muito se for uma pele seca ou um eczema que também dá muita comichão.
O tratamento deve abranger todos os indivíduos do agregado familiar e os contactantes. Além da mudança do vestuário e da roupa da cama e sua lavagem a temperaturas elevadas que matam o ácaro (>55ºC), devem ser aplicados cremes ou loções acaricidas durante 12-24h e dias seguidos, a seleccionar em função de cada caso.
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SINAIS DA PELE OU NEVOS MELANOCÍTICOS
Os “sinais” ou nevos melanocíticos são manchas pigmentadas, habitualmente de cor castanha ou negra, que aparecem na pele. Alguns podem estar presentes no nascimento, embora a maioria surja ao longo da vida, sobretudo a partir da adolescência. O número de sinais que cada um de nós possui depende de diversos factores, como por exemplo, da hereditariedade (factores familiares) e da exposição solar. Na sua grande maioria, os sinais têm uma evolução benigna e mantêm-se inalterados ao longo da vida, ou podem ter fases de crescimento discreto (habitualmente acompanhando a distensão da pele com o crescimento) ou de ligeira modificação de cor, em particular durante a gravidez.
A grande maioria dos sinais (nevos) que surgem na pele, quer à nascença, quer ao longo dos anos, são completamente inofensivos. Todavia existem alguns, com aspecto particular e irregularidade na distribuição da cor (nevos atípicos), podem indicar um maior risco de vir a ter um melanoma.
Como saber se um sinal é “bom” ou “mau”?
Para começar, é importante que cada um conheça a sua pele, os sinais que já possui, qual o seu aspecto, a sua forma e localização. Identificar se há algum “patinho feio”, isto é, algum sinal que seja diferente dos outros e que por isso chame mais à atenção. Por esse motivo, é indispensável o auto-exame dos sinais o qual deve ser efectuado regularmente (três a quatro vezes por ano). Conhecendo o nosso corpo, podemos detectar mais facilmente qualquer lesão suspeita.
Quando fizer a inspecção dos nevos deve ter em atenção a alterações no seu aspecto e forma. São os conhecidos sinais de alerta “ABCD” e que significam:
Assimetria – uma parte do sinal é diferente da outra;
Bordo – os bordos são irregulares, por vezes com prolongamentos;
Cor – o sinal ou teve alteração na sua coloração ou apresenta várias tonalidades, como por exemplo, castanho, preto, azul, róseo ou branco;
Diâmetro – se o tamanho é superior a 6 mm ou se houve crescimento de algum sinal já existente.
Para a realização do auto-exame, devemos estar num ambiente iluminado, ter um espelho amplo e um espelho pequeno de mão. De frente para o espelho amplo, examine toda a superfície anterior e lateral do seu corpo. Avalie as mãos e pés (palmas e plantas), não esquecendo as unhas e áreas interdigitais. Com a ajuda do espelho pequeno, faça a inspecção do couro cabeludo (separando os cabelos) assim como da área genital e anal.
De costas para o espelho amplo e com a ajuda do espelho pequeno de mão, analise a parte posterior do corpo (pescoço, costas, nádegas e pernas).
No caso de haver aparecimento de algum sinal novo ou alteração abrupta nalgum dos sinais com aumento da dimensão, alteração da côr, crescimento assimétrico com bordo pouco nítido, ou que tem a superfície em crosta, que sangra ou “dá comichão” também deve ser motivo de consulta. O Dermatologista, pela observação macroscópica ou com auxílio da Dermatoscopia, pode dar-lhe um diagnóstico correcto. Contudo, por vezes, estes exames não permitem um diagnóstico de certeza e o seu Dermatologista fará a excisão do nevo e seu estudo anatomopatológicoou.
Saber prevenir
É tão importante saber suspeitar da presença de uma lesão maligna como saber preveni-la. Uma vez que grande parte dos casos de cancro de pele relacionam-se com a exposição solar, é extremamente importante fazer uma protecção adequada da nossa pele, ao longo de todo o ano, com particular atenção às crianças e adolescentes. Assim sendo, deve utilizar protecção solar diária (mesmo em dias nublados, uma vez que 90% dos raios UV passam através das nuvens) com aplicações repetidas (de duas em duas horas), especialmente se tiver actividades ao ar livre ou se for à praia ou à neve. Sempre que possível, evite a exposição directa prolongada ao sol. Os homens calvos devem também proteger o couro cabeludo.
É importante ainda lembrar que as radiações ultravioletas nos solários têm efeitos nocivos e são cumulativas com as radiações ultravioletas do sol. Os solários são, por esse motivo, desaconselhados.
Não se esqueça de que a “chave” está na detecção e tratamento precoce de lesões suspeitas. Desta forma, se suspeitar da existência de alguma lesão atípica ou de algum dos sinais de alerta referidos, deve consultar o seu Dermatologista, o mais brevemente possível.
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SÍFILIS E OUTRAS INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS OU DOENÇAS VENÉREAS
A Organização Mundial de Saúde (OMS) calcula que anualmente 250 milhões de pessoas são contagiadas por Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). A população infectada desenvolve, frequentemente, sequelas permanentes, tais como infertilidade, malformações fetais, infecções neonatais entre outras. As ISTs são um grave problema de saúde pública, nem sempre devidamente valorizado.
A sifílis é uma das IST’s mais frequentes. Transmitida através de contactos sexuais vaginais, orais ou anais com indivíduos infectados sintomáticos ou assintomáticos, caracteriza-se pelo aparecimento de uma úlcera indolor localizada na área de contacto sexual, três semanas após o contágio. A “ferida” inicial cicatriza de forma espontânea após algumas semanas. No entanto, a infecção continua a progredir podendo, algum tempo depois, causar outros sintomas como febre, mal-estar, rouquidão, perda de cabelo, inflamações na garganta e manchas na pele, quase sem comichão, particularmente na palma das mãos e dos pés. Posteriormente, não sendo tratada, a sífilis pode atingir os órgãos internos podendo levar à morte.
Outra das IST’s com maior número de infectados é o Herpes Genital. Caracteriza-se pelo aparecimento, na zona genital, de manchas vermelhas com prurido a que se seguem vesículas (pequenas borbulhas com líquido) ou bolhas dolorosas com ulceração ao final de alguns dias. As úlceras formam crosta e curam espontaneamente ao fim de algumas semanas. Estes episódios são recorrentes e a sua frequência depende do tratamento da doença que, não sendo definitivo, diminui o risco de contágio e a frequência dos episódios.
Outro grupo de IST’s onde se incluem a gonorreia (popularmente conhecida por “esquentamento”) e a Clamídia, têm como principais sintomas um corrimento ou pus e ardor ao urinar. Este corrimento pode ter vários aspectos desde amarelo esverdeado a branco ou leitoso e pode ser pouco abundante. Particularmente nas mulheres, as infecções por Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis podem ser assintomáticas podendo, mesmo assim provocar infertilidade, gravidez ectópica e dores pélvicas. No homem a consequência da infecção pode ser a esterilidade. O tratamento destas doenças, quando precoce, é simples e eficaz.
A utilização de preservativo (masculino ou feminino) reduz significativamente o risco de contágio destas infecções. A abstenção de relações sexuais com uma pessoa infectada é, no entanto, o único meio 100% eficaz de evitar contrair IST’s.
A alteração de comportamentos de risco, o incremento da utilização dos preservativos, o tratamento, em tempo útil, de doentes sintomáticos e a monitorização de infecções assintomáticas bem como o rastreio de parceiros sexuais de doentes infectados são passos fundamentais no combate a este grave problema de saúde pública.
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UNHAS – ALTERAÇÕES E DOENÇAS DAS UNHAS
As unhas têm funções importantes: são um escudo protector da extremidade dos dedos, aumentam a subtileza da preensão, permitindo manipular objectos com precisão; por vezes são usadas como instrumento na alimentação, limpeza, ataque e defesa. Podem também ser decoradas tornando-se um acessório de atracção e, em algumas culturas, transmitem o estatuto social ou religioso do indivíduo. Qualquer alteração das unhas é motivo de preocupação, não só pelo incómodo ou mesmo dor que podem provocar, como também pelo prejuízo estético.
Sabia que o crescimento das unhas é contínuo?
Para renovar a unha dos dedos da mão ou do pé são necessários cerca de 6 e 12 meses, respectivamente, mas num adulto com problemas de circulação pode ser ainda demorado.
As unhas respondem de modo relativamente monótono às agressões e uma alteração da unha como uma mancha branca ou amarela ou uma depressão pode ter causas muito diferentes. O Dermatologista está habituado a reconhecer as alterações das unhas e, se necessário, proceder aos exames necessários para esclarecer a causa das alterações.
Nem todas as alterações das unhas são fúngicas. As unhas sofrem quando a pele à sua volta está doente (psoríase ou eczema), por traumatismos crónicos e repetidos (o calçado apertado, um tique de roer ou “massacrar” a unha pode torná-la grossa e amarelada), por traumatismos agudos (movimentos intempestivos no desporto, um hematoma após “entalar” o dedo numa porta podem mesmo descolar a unha da pele), alguns tumores da pele ou do osso podem afectar as unhas (exostose subungueal) e algumas doenças internas afectam o crescimento da unha (anemia grave, alterações de tireoide).
As infecções não são, portanto, a principal causa de alterações, mas alguns fungos afectam particularmente as unhas. Nas mãos, é mais frequente a infecção por leveduras do género Cândida, que inflamam a pele à volta da unha que se torna dolorosa, com pus (panaríceo) e secundariamente a parte lateral da unha fica acastanhada e separada da pele. A imersão prolongada das mãos em água e a diabetes é um factor facilitador deste tipo de infecções.
Nos pés são os dermatófitos que causam as infecções das unhas ou onicomicoses. Estas surgem muitas vezes pela frequência de locais quentes e húmidos (saunas, piscinas) com os pés descalços e o uso de calçado pouco arejado no Verão. Nestes casos não há dor, mas as unhas ficam com áreas de coloração amarelo acastanhada, tornam-se mais grossas e podem esfarelar-se. Estas infecções fúngicas das unhas curam-se, habitualmente, com comprimidos antifúngicos utilizados de forma prolongada, podendo a remoção da zona parasitada por corte ou abrasão com limas bem como o uso de alguns vernizes antifúngicos potenciar o efeito do tratamento sistémico. Após completar a terapêutica, há que esperar os meses necessários para o crescimento normal da unha.
Unhas frágeis e quebradiças são também uma queixa frequente, sobretudo ao nível das mãos e nas pessoas que recebem com assiduidade cuidados de manicura ou que têm as mãos frequentemente envolvidas em humidade e detergentes no seu trabalho. Mas podem ser identificados e eliminados os factores que provocam ou agravam as alterações das unhas:
Corrigir a carência de ferro, desequilíbrios hormonais e perturbações circulatórias;
Evitar molhar muitas vezes as mãos e os químicos que dissolvem os lípidos intercelulares (cimentos, solventes, sal, ácidos, anilinas, açúcar). Nas profissões mais expostas, usar luvas duplas de protecção (luvas de algodão sob luvas impermeáveis);
Não devem ser usados regularmente alguns procedimentos cosméticos, como a remoção do verniz com acetona, o “amolecimento” das cutículas com soluções alcalinas ou a aplicação de endurecedores à base de resina de formaldeído.
O uso generoso de cremes emolientes, sobretudo após a lavagem das mãos é uma boa rotina preventiva.
A maioria dos problemas das unhas pode ser eficazmente resolvido, pelo que é aconselhável consultar o Dermatologista quando estes surgem. Nos casos em que não é possível uma cura médica ou cirúrgica, pode-se recorrer à camuflagem através da cosmética. O verniz opaco ou as unhas artificiais podem ser aplicados mesmo sobre uma unha lesada, mas podem também ser causa de dano ungueal. As unhas “de gel” podem dar alterações duradouras ou definitivas das unhas, sobretudo na remoção intempestiva das unhas acrílicas. Ainda, tanto os acrilatos das unhas de gel como, mais raramente, a resina dos vernizes podem ocasionar alergia ou dermatite de contacto alérgica à volta das unhas ou nas áreas onde “mexemos” com as unhas (pálpebras, lábios, mento, ouvidos).
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URTICÁRIAS
A urticária é uma reacção da pele em que surgem, de forma súbita e com comichão, manchas vermelhas, de tamanhos diferentes e contornos nítidos, com relevo, vulgarmente designadas por “babas” ou “favocas”. Estas surgem em qualquer parte do corpo e desaparecem em minutos ou horas, sem deixar qualquer marca na pele. Por vezes também ocorre inchaço dos lábios ou pálpebras, de forma mais duradoura – é o angioedema.
É uma situação muito frequente e sem gravidade mas que, pelo incómodo que provoca (comichão) e pela visibilidade das lesões, gera habitualmente ansiedade e leva muitas pessoas a recorrer aos Serviços de Urgência. Quando as lesões se localizam à face há o receio, habitualmente injustificado e erradamente difundido entre o público e mesmo nalguma classe médica, que o inchaço se possa estender à “garganta” e causar asfixia. Mas, na realidade, este risco limita-se a situações agudas de alergia imediata a medicamentos ou ao veneno de abelha e numa doença familiar muito rara (angioedema hereditário).
Na grande maioria das vezes a urticária é esporádica e dura menos de 24 horas (urticária aguda), mas em alguns casos pode manter-se dias ou semanas e, em casos raros, persistir além das 6 semanas - são as urticárias crónicas. Em todas estas formas a lesão é a típica “baba” que resolve nuns locais e surge noutros.
A urticária é originada pela activação de células da pele – os mastócitos - que libertam histamina, a mesma substância que os picos da urtiga “injectam” na pele durante a picada - daí o nome da doença e a semelhança entre a urticária e a reacção à picada da urtiga. Estas células libertam a histamina por contacto com as substâncias a que o indivíduo é alérgico, mas muitas outras causas podem activar estas células e provocar a mesma reacção.
A urticária aguda é muito frequente - metade da população tem um episódio de urticária em alguma fase da sua vida. Pode ser uma manifestação de alergia a alimentos (mariscos, especiarias, frutos secos e frescos como banana e Kiwi), medicamentos (penicilina), latex e plantas, mas as formas alérgicas, ao contrário do que se possa pensar, são raras (<10%) e desaparecem quando cessa a exposição ao alergénio. Na suspeita de alergia pode realizar uma análise de sangue ou efectuar testes da “picada”, mas na maioria das vezes não se identifica a causa nem há justificação para a realização de testes ou outras análises.
As urticárias crónicas, pela persistência das lesões ou irregularidade e imprevisibilidade do seu aparecimento, têm um grande impacto na qualidade de vida. Na sua grande maioria não são graves, em mais de 80% não se identifica uma causa: não há qualquer alergia, mas o uso de anti-inflamatórios para o tratamento da dor ou reumatismo ou de xaropes da tosse com codeína desencadeiam com frequência surtos de urticária. Nestas urticárias crónicas é necessário efectuar análises para tranquilizar o doente e eliminar uma doença associada, mas os testes das “picadas” não têm habitualmente indicação.
Algumas destas reacções acontecem após fricção, vibração ou pressão sobre a pele, exposição ao calor, frio ou sol ou realização de esforço físico – são as urticárias físicas. Por exemplo, com um objecto pontiagudo podemos escrever na pele e esta, em poucos minutos, fica vermelha e em relevo – é o dermografismo; quando arranhamos ou coçamos a pele ou damos uma bofetada, os dedos ficam marcados na pele durante minutos e provocam muita comichão; a pressão de elásticos da roupa provoca “babas” que demoram minutos a horas a desaparecer – é a urticária de pressão. Na urticária ao frio surge comichão na boca e lábios ao comer um gelado ou formam-se “babas” ao molhar o corpo em água fria (banho de mar), havendo aqui o cuidado para não expor grandes superfícies do corpo simultaneamente a essa água fria – nesta urticária a aplicação de um cubo de gelo no antebraço durante uns minutos desencadeia a “baba” de urticária no local de contacto.
O diagnóstico de urticária é fácil e pode ser feito por qualquer médico, contudo a sua avaliação e tratamento nas formas mais crónicas ou recidivantes necessita do conhecimento do Dermatologista que pode ter necessidade de recorrer e medicamentos diferentes dos anti-alérgicos habituais, os anti-histamínicos.
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VERRUGAS E OUTRAS DOENÇAS PELO VÍRUS DO PAPILOMA
O vírus do Papiloma Humano (HPV) pode infectar a pele e algumas mucosas dando origem a verrugas que têm expressão clínica particular, dependendo do serótipo do vírus e da localização da infecção.
As formas mais frequentes são as verrugas vulgares, vulgarmente designados “cravos” , que surgem mais frequentemente nas mãos. Podem ser únicas ou múltiplas, são assintomáticas, excepto se em redor das unhas ou nas articulações pois podem ferir, sangrar e doer. São lesões elevadas de poucos milímetros de diâmetro rosadas de superfície rugosa, por vezes com pontos negros no seu interior. Na face estas verrugas podem manifestar-se como pequenos prolongamentos filiformes ásperos, que no homem, na área da barba, são múltiplos disseminados pelo acto de barbear – verrugas filiformes. Na face há também verrugas planas, pequenas borbulhas de poucos milímetros, redondas ou poligonais, de cor castanha clara ou róseas, que por vezes se dispõem em fila pois no acto de coçar a unha arrasta os vírus e deposita-os ao longo da linha de arranhamento.
As verrugas dolorosas são as verrugas plantares que se localizam na planta do pé. Devido ao peso do corpo não são salientes mas crescem para o interior e provocam dor ao apoiar o peso do corpo sobre elas. Confundem-se muitas vezes com calosidades. Como, de momento não há nenhum medicamento que “mate” o HPV, as verrugas são destruídas por aplicação de cáustico (pomadas e líquidos) sobre a lesão. Existem ainda várias técnicas ao alcance do Dermatolgista para resolução destas infecções HPV (crioterapia, electrocuagulação, Laser, etc), não estando habitualmente indicada a cirurgia clássica.
O HPV pode também provocar verrugas na pele e mucosas da área genital, os condilomas. Estes representam a infecção genital mais frequentemente observada em consulta de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). Na pele da vulva, do pénis ou em redor do ânus, formam pequenas vegetações róseas assintomáticas, “amoras”,”cristas de galo” ou, quando de maiores dimensões e confluentes, o aspecto de “couve-flor”. Após a transmissão, o vírus pode ficar nas camadas superficiais da pele sem se multiplicar, não origina lesões visíveis e na maioria das vezes a infecção é transitória, isto é, cura por si. Mas calcula-se que 10-20% da população sexualmente activa possa ser portadora e transmitir o HPV.
A grande maioria destes condilomas é provocada por serótipos do HPV ditos de “baixo grau”, ou seja, com baixa capacidade indutora de cancro da região anogenital. No entanto, dada a possível coexistência de vários serótipos na mesma lesão, a presença de HPV de “alto risco” não é de excluir, sobretudo em doentes com compromisso das defesas do organismo, como na infecção HIV e em transplantados de órgãos.
O diagnóstico desta infecção tem particular importância na mulher e em homens que têm sexo com homens, dada a possibilidade de associação a doença maligna do colo do útero e ânus. Para o diagnóstico da infecção nestas localizações é importante a realização de um exame, vulgarmente designado por “Papanicolau” ou citologia, que poderá ser feito em consulta de Planeamento Familiar, Ginecologia e/ou consulta de IST em Dermatologia.
A infecção HPV anogenital está muitas vezes associada a alguma morbilidade física e emocional. Sintomas como dor, prurido, sangramento e dor quando das relações sexuais, podem estar presentes, assim como, sentimentos de angustia, culpa e grande ansiedade. Tal como nas outras verrugas, o tratamento dirige-se apenas à destruição dos condilomas. A observação dos parceiros sexuais é importante pois permite diagnosticar e tratar as lesões de condiloma quando visíveis, assim como, avaliar outra/outras infecções sexualmente transmissíveis que possam estar presentes.
A prevenção da infecção é importante e deverá compreender: a limitação do número de parceiros, a utilização de preservativo, (embora nesta infecção a protecção possa ser limitada) e a administração quando recomendada, da vacina para o HPV. Actualmente existem duas vacinas profilácticas para a infecção HPV anogenital, mas apenas uma se encontra incluída no programa de vacinação das adolescentes de sexo feminino, desde 2008. Trata-se de uma vacina que mostrou ser eficaz contra os 4 serotipos de HPV responsáveis pela patologia anogenital mais comum e pelo cancro do colo do útero.
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ZONA, HERPES ZOSTER OU “COBRÃO”
Alvo de rezas e mezinhas a zona sempre despertou a curiosidade popular. É na realidade uma doença frequente, já que 10 a 20% da população terá zona em alguma altura da vida. É provocada pelo mesmo vírus da varicela. Após a infecção inicial (que se manifesta pela varicela) o vírus aloja-se em gânglios nervosos, permanecendo aí inactivado para sempre ou pode reactivar-se mais tarde originando doença (que se traduz pela zona). Esta reactivação é mais frequente em doentes com idade avançada ou que estejam imunodeprimidos, ou seja, com o sistema imunitário debilitado, como são exemplo os doentes transplantados, a fazer quimioterapia, com linfomas e leucemias ou SIDA.
Como se manifesta a zona?
Ao contrário da varicela em que as borbulhas se generalizam por toda a pele, na zona as borbulhas ficam limitadas a uma área (dermátomo) que corresponde ao território de um nervo sensorial (ou seja, uma “faixa” de pele que corre ao longo das costelas, do braço, da coxa e perna ou, na cabeça, só na fronte, ou nas maçãs do rosto ou mais abaixo junto ao ângulo do maxilar) e só de um lado do corpo. Nos dias antecedentes ao aparecimento das lesões na pele os doentes poderão queixar-se de dor, ardor e formigueiros nesse local, o que pode levar a confusões diagnósticas com cólicas renais, infecções urinárias ou hérnias discais.
Surgem posteriormente, nessa área, vários grupos dispersos de lesões em “cacho” ou “ramo de flor”, constituídas por borbulhas pequenas com líquido (vesículas) sobre uma área avermelhada. Ao fim de alguns dias as borbulhas podem juntar-se em bolhas de líquido maiores e ganhar pus, rompem e transformam-se em crostas mais secas. A zona pode ocorrer em qualquer parte do corpo, mas é mais frequente no tronco (ao longo de 2 ou 3 costelas) ou na face (fronte e têmporas).
Tipicamente só atinge um dos lados do corpo e as borbulhas param mesmo na linha média do corpo. Em casos raros, em doentes imunodeprimidos, pode disseminar-se. Em rezas populares ainda se veicula o medo: “Eu te rezo cobrão (…) Não ajuntes o rabo com a cabeça” sugerindo a hipótese de a zona afectar os 2 lados do corpo, o que habitualmente traduz uma doença grave que lhe está subjacente.
É contagiosa?
Até se formar a crosta, as vesículas contêm o vírus, daí que o contacto directo com as lesões por pessoas susceptíveis (crianças que ainda não tenham tido varicela, imunodeprimidos e grávidas) possa originar varicela.
Quais as complicações principais?
Em doentes imunodeprimidos ou com mais idade as complicações podem ser mais graves. O aparecimento de numerosas vesículas fora do dermátomo, sobretudo nas primeiras horas, é um sinal de alarme para uma possível disseminação do vírus. A localização da zona na parte superior da face pode acompanhar-se por uma lesão do nervo oftálmico, e por isso o doente deve ser observado por um oftalmologista, de maneira a detectar precocemente alterações e a evitar complicações oculares graves. Uma complicação tardia que atinge alguns doentes, é a nevralgia pós-herpética, definida como a dor que persiste mais de 4 semanas nas áreas afectadas, após a cicatrização das lesões cutâneas, que pode mesmo ser incapacitante e durar meses a anos.
Qual o tratamento?
Quanto mais cedo se iniciar o tratamento (o ideal será nas primeiras 72 horas após o início das lesões) com medicamentos por via oral (antivíricos), mais eficaz se torna a redução da dor e das lesões. O alívio da dor com analgésicos é fundamental, bem como manter a pele limpa para evitar infecções. No que se refere à dor tardia estão disponíveis várias armas terapêuticas, que incluem medicamentos orais e de aplicação tópica. Felizmente a maioria das pessoas só tem zona uma vez na vida.