O Grupo Português de Cirurgia Dermatológica,
um dos grupos mais antigos que se constituíram dentro da estrutura mãe da
Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia, resultou naturalmente da
crescente importância que a Cirurgia Dermatológica tem vindo a ocupar desde a
década de 60 até aos nossos dias.
Com efeito, aproximadamente 50% da prática clínica dermatológica diária é
constituída por doenças que têm tratamento cirúrgico ou que necessitam de atos
cirúrgicos para o seu correto diagnóstico e orientação terapêutica.
A tradição cirúrgica na Dermatologia curiosamente não é, no entanto, uma
novidade, já que desde a sua fundação foi cirúrgica. Max Planck, considerado o
pai da Dermatologia moderna, fundada há mais de 200 anos, era um cirurgião.
Há diversos instrumentos cirúrgicos inventados por dermatologistas como curetas, brocas para dermabrasão e existem também técnicas cirúrgicas criadas por dermatologistas. Talvez a mais famosa seja a técnica de Orentreich de transplante de cabelo para a correção da calvície que ainda hoje se utiliza com pequenas modificações. Na altura, Orentreich foi acusado de charlatanismo pelos seus pares já que havia a noção de que o dominante era a área recetora do enxerto sendo o enxerto passivo, ou seja, o enxerto tomaria as características da região da pele para onde era transplantado. Ora Orentreich fez justamente o oposto, ou seja, colheu enxerto em área pilosa do couro cabeludo e transplantou-a para área calva com manutenção de produção de cabelo pelo enxerto. Ou seja, Orentreich demonstrou que no ser humano ao contrário da escala animal abaixo, a dominância era do enxerto e não do recetor. Mais tarde, Orentreich fez experiências em voluntários presos em S.Quentin que provaram a sua razão. Esta propriedade biológica considerada como distintiva do ser humano foi gravada numa placa de titânio com a descrição do género humano que segue em sonda espacial para outras galáxias depois de ter fotografado Vénus.
A cirurgia micrográfica, idealizada por Mohs nos anos 30 e desenvolvida por Tromovitch e Stegman, com a técnica a fresco, assim como modificada por outros procedimentos de histologia tridimensional, muito em voga na Alemanha, é uma aquisição essencial da cirurgia dermatológica, continuando a ser o método mais eficaz no tratamento do cancro cutâneo.
Na área da cirurgia cosmética, foi igualmente um cirurgião dermatológico (Jeffrey Klein) que desenvolveu a técnica da lipossucção tumescente em 1987.
As escolas alemã e austríaca de dermatologia sempre foram médico-cirúrgicas desde a sua criação e assim se mantêm até hoje. Mas perderam influência durante e após as duas Guerras Mundiais a favor da escola francesa muito ligada à Medicina Interna. Mas um pouco por todo Mundo Ocidental, nos anos 60 inicia-se a prática intensa da cirurgia dermatológica. Em Portugal, foi o Dr. António Oliveira no Hospital do Desterro e depois no Centro de Dermatologia Medico Cirúrgica em Lisboa que lançou a cirurgia dermatológica como uma sub-especialidade de atividade autónoma e com instalações e pessoal médico, de enfermagem e auxiliar próprios. O grande desenvolvimento da cirurgia dermatológica promoveu também por arrastamento um grande número de exames anatomopatologicos e a consequente expansão da histopatologia cutânea feita por dermatologistas. Rapidamente o ensino da cirurgia dermatológica se espalhou pelos diversos serviços hospitalares do país encarregues de dar formação aos internos da especialidade surgindo secções de cirurgia dermatológica em todo Portugal. Assim surgiu a necessidade de fundar o Grupo da Cirurgia que naturalmente congrega todos aqueles que praticam a cirurgia da pele. O Grupo promove cursos básicos e avançados e por vezes é convidado a realizar uma sessão durante uma das Reuniões Nacionais da Sociedade Portuguesa de Dermatologia e venereologia.
As décadas de 70 e 80 foram de progressiva afirmação e nos anos 90 e até ao presente é aprovado um novo curriculum vitae que consagra definitivamente a Dermatologia como uma especialidade Medico-Cirúrgica à semelhança de outras especialidades de “órgão”.
Normalmente, a atividade cirúrgica dermatológica desenvolve-se em salas próprias, sendo relativamente raro o recurso aos Blocos Centrais dada a sua especificidade e grande número de atos por sessão. A grande maioria das cirurgias da pele é feita sob anestesia local com ou sem sedação e o material cirúrgico é próprio e diferente em alguns aspetos do utilizado em Cirurgia Geral.
A cirurgia dermatológica tem sido envolvida de forma crescente no tratamento de tumores malignos, não só na excisão da lesão primária e encerramento do defeito cirúrgico por técnicas complexas, mas também em técnicas avançadas como é o caso do gânglio sentinela.
Os seus membros participam em consultas de decisão terapêutica com outras especialidades e acompanham de forma crescente o tratamento de neoplasias em estadio IV manuseando quimioterapia, imunoterapia e terapia alvo.