Isto acontece porque os novos tratamentos, aprovados recentemente, e que constituem “uma revolução no tratamento” da doença, só têm prescrição no SNS, explica a dermatologista Maria João Lopes.
Os doentes com dermatite atópica grave, uma doença inflamatória da pele, têm agora acesso a tratamentos inovadores apenas disponíveis no Serviço Nacional de Saúde, o que está a levar os privados a encaminharem os doentes para o SNS, denuncia a dermatologista Maria João Paiva Lopes.
Em declarações à Lusa, a especialista adiantou que os novos tratamentos, aprovados recentemente, constituem “uma revolução no tratamento” da doença e fazem uma “imensa diferença na capacidade terapêutica e na eficácia na resposta à terapêutica”.
Como estes novos tratamentos comparticipados integralmente pelo Estado só têm prescrição no SNS, disse, “um grande número de doentes” que estava a ser acompanhado nos sistemas de saúde privados não tem acesso a eles, tendo de ser encaminhados para o SNS, explicou a diretora do Centro de Responsabilidade Integrado de Dermato-venereologia do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central (CHULC).
Uma situação que se reflete nos “muitos pedidos de consulta” que estão a chegar à Consulta de Dermatite Atópica, no Hospital dos Capuchos, que pertence ao CHULC, feitos por dermatologistas e até por alergologista e pediatras que acompanham estes doentes no privado, mas também por médicos do SNS.
A consulta, que funciona há já um ano, integra as valências de dermatologia e de enfermagem e quando é necessário é feita a articulação com outras especialidades médicas, uma vez que muitos doentes têm outras doenças associadas como asma, renite alérgica, alergias alimentares, problemas oftalmológicos e podem até precisar de apoio psicológico ou psiquiátrico.
A doença afeta cerca de 20% das crianças e 7% dos adultos e, segundo Maria João Lopes, tem um impacto “catastrófico” na qualidade de vida dos doentes mais graves.
“Não conseguem trabalhar, não conseguem descansar, não conseguem dormir. Coçam-se mesmo durante o sono e coçam-se tanto que chegam a fazer feridas sangrentas de tanto se coçarem”, descreveu.
Apesar do seu impacto, a doença é frequentemente desvalorizada: “As pessoas que não têm um conhecimento muito próximo e muito direto das doenças de pele têm tendência a associar a pele à cosmética e achar que a situação não é assim tão grave”, lamentou.
Contudo, quando se faz a comparação do impacto na qualidade de vida com doenças que são “manifestamente gravíssimas”, como a doença renal crónica, diabetes, epilepsia, a dermatite atópica crónica aparece sempre como tendo um impacto maior.
Além do sofrimento direto, há também o impacto económico para o doente, para a família e para toda a sociedade devido às faltas ao trabalho, baixas, reformas antecipadas, subsídios de desemprego, mas também os gastos em saúde.
Apesar dos medicamentos serem comparticipados, os doentes necessitam de utilizar diariamente produtos dermocosméticos que são caros e não são comparticipados.
Um estudo realizado em 2020 estimava que a despesa direta em produtos e serviços de saúde para o tratamento da dermite tópica rondava os 488 milhões de euros anuais para os doentes e 218 milhões para o SNS.